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De olhos lavados, com girassóis e pinheiros mansos despeço-me da Nacional 2, para dar entrada na incompleta A26.
Intervalados, o motor do carro à distância, o movimento da corrente da bicicleta, a aproximação do tractor quebram o silêncio raro do Baixo Alentejo.
Por estas bandas sobreiros, medronheiros, pinheiros e eucaliptos. Cheirinho a esteva.
Almoço em restaurante de alentejanos, de origem no Cercal. Pratos de cozinha tradicional. Caseiro. Simpatia extrema.
Tu ficas, Algarve. Eu vou, mas volto. Até breve.
São precisas várias mãos e sorrisos para lançar um Balão de São João. Daqui de Portimão sinto a noite longe de casa e nenhuma dúvida que pertenço à minha gente. Só aspiro a que se concretizem os sonhos de todos os que têm bom coração e vontade. Em espírito e a quinhentos e cinquenta quilómetros do Porto estico com as pontas dos dedos uma das dobras do papel de seda até que o balão ganhe forma e voe cuidando do divertimento e desejos de todos os que vibram com descontracção e cumplicidade a noite mais alegre do ano. Festa nas ruas da cidade molhada pela morrinha que premeia e abençoa o ano de trabalho.
São João é antónimo de solidão. É companhia, alegria em multidão - pertença à nossa casa.
Até amanhã, Porto.
Na antevéspera de vir de férias um leitor das Comezinhas abriu os postais de Setembro último sobre a minha segunda visita à Feira do Livro. Na altura li uma das duas histórias do escritor e cineasta afegão Atiq Rahimi que comprei nesse final do Verão. Trata-se do primeiro romance do autor, publicado em 2000, cuja narrativa decorre nos anos oitenta durante a invasão Soviética: Terra e Cinzas. Apesar de ter gostado da beleza poética e violenta das palavras nele contidas afastei a ideia de segunda leitura imediata. Deixei assim Pedra-de-Paciência, título pelo qual fui atraída à banca de alfarrabista, para mais tarde. Só agora, despertada pela tal visita a entradas passadas no blogue, decidi lê-lo. Ontem à noite embrenhei no trágico mundo de uma mulher afegã.
Noite amena na rua em Portimão.
Praia do Forte de São João, Albufeira. Fim de tarde passada com o meu pai, no seu refúgio a Sul.
Portimão. Fui acompanhar apreciadores de caracóis e ao que parece festejar a maioria absoluta: se não os consegues vencer, junta-te a eles.
Só para que se saiba que não sou intolerante de todo.
Praia de Porto de Mós - Lagos.
A minha praia cerca de quinze anos consecutivos na infância e adolescência. Na casa dos vinte ainda lá fui com alguma frequência, depois começou a rarear como destino. Estava linda, hoje.
Lagos.
Lulas e camarão de entrada, pargo e sardinhas de almoço - Índios da Meia Praia, Lagos.
Praia da Rocha, Praia dos Três Castelos e Zona Ribeirinha no Alvor, Portimão.
Escrito há três meses e já nem me lembrava. O tempo voa.
*
Acordo de madrugada após cinco horas de sono a rematar um dia cheio. Penso que preciso de dormir mais uma hora para aguentar o ritmo do descanso - parecendo que não isto de relaxar fatiga. Antes de o fazer escrevo este postal e tiro duas fotografias rápidas ao amanhecer com meia hora de diferença entre si.
Ontem de manhã fiz duas horas de praia, como de costume em férias. Uma hora a caminhar na areia junto ao mar, outra a dar poucas braçadas e estender-me ao sol distraída com as conversas dos vizinhos de tolha estendida, que pelas pronúncias e temas de tagarelice me pareceram na maioria do Minho e Grande Porto. Vista do mar a costa urbana de Portimão é francamente feia. Feita de construção desordenada como é característica nacional das últimas quatro décadas. Vale o areal de consistência fina e a temperatura agradável do mar, que faz da caminhada a chapinhar na água um prazeroso passeio.
Seguiu-se o fingir de sesta após pretenso e mui ligeiro almoço e ao final da tarde o travar de conhecimento com a piscina do hotel - sempre ponto fulcral nas minhas férias. À partida foi o susto: entre prédios nem uma nesga de sol no espaço exíguo onde está instalada, rodeada de espreguiçadeiras a poucos centímetros umas das outras. Contudo, pouco na vida é realmente o que parece. Entrada na água, a temperatura estava excelente pelo que se seguiram trinta e cinco minutos a nadar calma e compassadamente por puro prazer deixando-me levar pelas divagações - o efeito da água em mim assemelha-se ao de seguir num carro ou comboio entre paisagem desafogada: parto em viagem. Nadar é um dos maiores prazeres que sinto na vida. Saí de lá mais uma vez a pensar que devo ir regularmente à piscina municipal junto a casa.
Antes do jantar terminei de ler o livro que comecei na véspera: A História de um Sonho, de Arthur Schnizler. Um dos três que trouxe. Mais um romance escolhido entre a Colecção Mil Folhas pelo reduzido tamanho. O que no caso é enganador atenta a densidade freudiana da narrativa. Se entrei no romance com a sensação de desconfiança face aos estereótipos e excessos da psicanálise, terminei agradada. Não foi leitura em vão.
A aterrar na Praia da Rocha. Não vinha ao Algarve há dez anos. Venho matar saudades. Lagos está na mira. Só não fico lá por sem carro preferir uma praia mais acessível. Bem sei que estou a fazer uma utilização 'facebookiana' das Comezinhas - até com excesso de elementos pessoais. Não quero saber, não usando Facebook nem Instagram preverto um pouco este meu blogue.
Faz cá falta o Ritz.
Se tudo correr bem, o regresso será pela Nacional 2.
E por aí fora. Esta lista não teria fim se continuasse a dizer tudo quando me anima.
Depois deste elenco não posso senão concluir tender mais para o feliz do que para o infeliz. Não foi com essa intenção de terapia que comecei a escrevê-lo, mas ainda bem que teve esse efeito útil. Não sei se faça um postal com o que não gosto e outro com o que me deixa indiferente. Ficarão para um dia lá mais adiante.
Se este postal tivesse pretensões, no lugar de boa música estariam três referências a obras e compositores célebres, em vez de pintura figuraria o nome de um par de mestres e seus quadros, tal como mencionaria a forma como me teriam tocado quatro poetas e dois romancistas. Desapareceriam as banais torradas para dar lugar a um requintado prato confeccionado por chef de renome. E por aí adiante. Sucede que não há em mim intenção de exibir uma vitrine de conhecimento em leque, mas tão só revelar o que penso e sinto. O que na verdade me alegra.
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