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Imagem do Jornal Económico.
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Fernando Medina disse na segunda-feira no espaço de comentário na TVI24 que “com maus chefes e pouco exército não é possível ganhar esta guerra”.
Imagem do Observador.
«Os sindicatos da Função Pública entendem que o teletrabalho no Estado passa necessariamente por maiores remunerações ou bónus na progressão da carreira, segundo o Jornal de Notícias.»
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Desculpem os termos rudes, mas só me apetece agarrar nas fuças destes gajos e esfregar-lhes a cara na realidade da pobreza. Roçar-lhes a fronha na precariedade e nos salários baixos do sector privado, no desemprego, na mendicidade e no desespero de quem não tem para comer. É ultrajante, a lábia.
Para que tenhamos noção do que estamos a falar, leia-se esta notícia de Janeiro último.
«O ganho médio mensal bruto dos trabalhadores da Função Pública era de 1.730,80 euros em abril de 2019. Um valor 45,68% acima da média da totalidade dos portugueses, que se situava em 1.188,10 euros, segundo os últimos dados divulgados pelo Ministério do Trabalho, a que o Jornal Económico teve acesso.»
Imagem daqui, onde podem aprender um pouco sobre estas ervas medicinais. Aqui têm mais informação.
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Tive a fortuna de conhecer a Glória, uma mulher do campo. Andaria nos sessenta quando eu era criança. Altiva, de pele branca, carrapito na cabeça e olhos muito azuis. Não se podia dizer que fosse um primor de asseio, mas era uma mulher absolutamente extraordinária. Daria uma complexa e rica personagem de romance. Analfabeta, era a mulher dos sete ofícios. Ajudante em restaurante e cozinheira em casa particular. Jornaleira e jardineira. Distribuidora do pão pelas aldeias. Bruxa e curandeira temida pelas gentes de toda a redondeza, a quem recorriam quando tudo mais falhava, mas logo maldiziam à primeira oportunidade. "Matou-me as galinhas todas só de lhes botar aqueles olhos", asseverava uma conterrânea. Mais do que tudo, e pelo constante trazer e levar de novidades, o Jornal de Notícias lá do sítio, como a conhecíamos em casa. Mãe solteira, mulher de má fama, de quem se contavam histórias de arrepiar, hoje impronunciáveis por atentarem aos mais invioláveis valores.
Segui os seus gestos e palavras quando amanhava a horta e tratava do jardim. Fazia a melhor broa de milho que algum dia comi. Gostava de a ver amassar a farinha, das rezas e da benzedura. Ao seu lado, imitava-a e ajudava a fazer as mini broas individuais. Vi como preparava o forno de lenha, com as achas em brasa. No Outono ia com ela colher cogumelos. Os sentieiros, como os tratava (tive que mandar uma mensagem por whatsapp para que me recordassem este nome, esquecido com o passar dos anos; a tecnologia também serve para estas coisas). Sabia distinguir os bons dos venenosos. Examinava os anéis à volta do caule. E o reverso do chapéu para confirmar se a zona dos esporos era em folho. Confiámos em absoluto. Nunca falhou.
Sorrio quando me lembro da luz que saía daquele impressivo rosto ao afirmar: laranjas não posso, de manhã ouro, à tarde prata e à noite mata. E de toda a expressividade teatral com que nos disse: por estes olhos que a terra há-de comer que não sei da faca, enquanto se nos dirigia empunhando e gesticulando a dita. E eu ria cúmplice: mas está na sua mão. Alegro-me quando recordo as vindimas e como preparava a sopa de lavrador nas panelas tripé de ferro ou as sardinhas fritas sobre a broa. O manjar dos deuses.
Conhecia as mais variadas ervas medicinais. Sempre que era preciso uma mezinha, a Glória trazia a planta certa para o chá certo. Secava-as e mais tarde pendurava-as na porta no quarto onde dormia quando era preciso lá dormir. Quando não era punha-se a caminho, já noite feita, pelos carreiros entre as matas. Corajosa, nada temia. Eu dizia-lhe que levasse o cão. Ela respondia que sim, que ele ia. Não sei quem guardava quem. Os cães respeitavam-na. Todos a respeitávamos. Era uma sábia.
O chá (não me apetece usar o rigor da infusão) de mentrasto era a mezinha que mais tenho memória de ela usar. Confirmo que, entre outras propriedades terapêuticas, ajuda na digestão e é analgésico.
Texto corrigido a 17/05/21.
Hoje antes das 9:30h, no escritório e já a tratar de assuntos de trabalho ao telefone com uma colega, oiço isto: “a Isabel tem jeito para má”. São 10:00h e ainda não recuperei, acho que levei uma cotovelada de aviso. Serei má?
Hoje, em frente ao local de trabalho e num percurso de cinquenta metros, fui abordada por quatro pedintes: três homens e uma mulher. Todos com ar de efectiva carência. No início do mês fui duas vezes à baixa e o cenário era idêntico. Apesar de sempre ter visto as ruas do Porto com mendigos, não tenho memória de uma vaga desta dimensão. É assustador. É impossível ficar indiferente.
Vamos a Tenerife?
Como aqui preconizava o cenário nacional (e nalgumas outras paragens do mundo) em matéria de recrudescimento do contágio por covid-19 está a piorar. Adelante, que a vida não pára por, infelizmente, ser provável que pare para muitos.
Sem inspiração suficiente para pegar na Odisseia, esta tarde resolvi atirar-me à resenha menos heróica e nada lírica (pensando bem, talvez seja) dos acontecidos no País e no BES (e satélites) feita por Ricardo Salgado em Março de 2015 na Comissão Parlamentar de Inquérito. Para além da exposição minuciosa e técnica das operações bancárias e comerciais com vista a salvar o banco da bancarrota, interessam-me sobretudo alguns apontamentos – às vezes laterais – que o autor fez para justificar o rumo dos acontecimentos. I. é, e como agora se usa dizer, a narrativa.
Começa por versar sobre as consequências da crise de 2008 e o efeito dominó da Lehman Brothers. A primeira nota a registar é a crítica velada à falta de intervenção pelos governantes norte-americanos. Depreendo do que leio que o banqueiro responsabiliza a omissão política pela falência. Ao ler o resto da declaração, e recordando o facto de ter havido um apelo ao Governo português de então para intervir no caso BES, confirmo que é essa a opinião de Ricardo Salgado. Na narrativa sobressai a ideia de que apesar do sobre-endividamento (pelo menos isso assume, comparando-o ao problema do País), o Banco era viável não fosse a recusa do Governo e da Troika em criar um «veículo comum ao sistema para alavancar as disponibilidades previstas no Memorando da Troika». Leia-se um centro de reciclagem de lixo bancário dentro do sistema bancário. Não confessado, porque para o autor «Este veículo não era um banco mau, já que os activos bancários seriam transferidos, devidamente provisionados. E cada banco participaria no capital do veículo na proporção dos activos transferidos.» Sendo públicas as práticas contabilísticas do BES, ficamos logo cientes de como seriam fabricados os números oficiais desse tal ‘aprovisionamento’.
A narrativa continua na mesma linha no que diz respeito à espoleta da falência. Sem o dizer directamente – a arte da subtileza – o autor atira a responsabilidade para o BdP por, em Dezembro de 2013, descobertas e reportadas imparidades no âmbito da ESI, colocar condições impraticáveis ao seu projecto de recuperação. Leia-se: o BdP impor a devolução do papel comercial num curto espaço de tempo.
A segunda nota é bem previsível e prende-se com a intervenção das consultoras financeiras internacionais. Por diversas vezes, o autor justifica – sem o dizer directamente - a lisura e boa-fé da sua actuação com referências ou mesmo excertos dos relatórios das consultoras. Foi com o apoio da Mckinsey que a Associação Portuguesa de Bancos apresentou a tal proposta (recusada) de criação de um veículo para emissão de obrigações a colocar no mercado ou directamente no BCE. E se foi na sequência de uma auditoria da PWC que foi reportado um passivo não registado na ESI (que obrigou o BdP a ordenar a devolução do papel comercial), também foi a PWC que se pronunciou, em Março de 2014, apesar deste desvio, pela viabilidade economia e financeira do GES e pela inexistência de imparidades na RIOFORTE. Por fim, foi a KPMG que atestou que as emissões de obrigações EUROFIN serviram para pagar dívida do GES detida por clientes, ou seja, para protegê-los.
Tudo entidades muito recomendáveis, que continuarão a auditar como se nada fosse. Senão vejamos. A Mckinsey a braços com um inquérito criminal nos Estados Unidos pela acusação de desviar para si fundos destinados aos credores das empresas auditadas. A PWC é perita em cortar relações com clientes quando a coisa azeda. Aconteceu com o BES e com Isabel dos Santos; continua com a marca de água do final dos anos 90. Com relação à KPMG, o BdP concluiu que violaram o dever de comunicação de factos e que prestaram informações incompletas e falsas quanto à filial em Angola – a BESA. Neste contexto, importa lembrar que Ricardo Salgado afirmou que o Governador do BdP declarou que situação do BESA estava assegurada por uma garantia do Estado Angolano, tendo-se esquecido de mencionar que havia créditos incobráveis por declarar do seu conhecimento e do conhecimento da KPMG, segundo descoberta posterior do BdP.
Entretanto, ficamos a saber que a ajuda das autoridades norte-americanas e espanholas tem sido crucial – ao identificar os nomes dos beneficiários venezuelanos das transferência através do saco azul do GES - para permitir que seja imputado o crime de associação criminosa, com o fundamento da suspeição de pagamento luvas a políticos e gestores de empresas públicas venezuelanas com vista à compra de dívida da ESI. E, mais recentemente, que o fundamento para a imputação do crime de associação criminosa parece sólido, uma vez que o MP está convencido haver fortes indícios de prática continuada e duradoura de alegados crimes de corrupção, branqueamento de capitais, falsificação de documento, etc. E, a ser verdade, não deixa de ser extraordinário que um Banco emita dívida, vendendo-a aos balcões para remunerar administradores e altos funcionários. É o que se chama fazer a coisa à descarada. Alegadamente, claro.
Enfim, bem espremidas foram estas as leituras significativas de Domingo. Às tantas, devia ter ido com Telémaco à procura de notícias de Ulisses, sempre abstraía das desgraças.
Imagem daqui, onde podem aprender um nadinha sobre tílias.
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A disciplina não é o meu forte. Além do que raramente cumpro uma das 382 promessas que faço por ano. Vivo cheia de intenções e hoje ao lembrar árvores e plantas que conheci, ocorreu-me começar a fazer posts sobre verdes. Mostrar árvores, plantas e flores, dar nome e associar as palavras que apeteçam, no momento. Sem cientificidade. Não tenho conhecimento para tal e para isso há espaços especializados em botânica. Naturalmente, a haver periodicidade será a do quando calha e pode até nem voltar a calhar; é assim para quem vive ao sabor do vento e das luas e não sabe respirar doutro modo.
Como não podia deixar de ser, começo pelas tílias. Cresci rodeada de oito tílias à volta de casa, mais três na rampa de acesso. Umas chegaram a celebrar os cem anos, outras não. Soltando a sombra da memória, foram tombando como só o passado sabe tombar. Para mim simbolizam o tempo, a família, a robustez e a paciência. E, porque não há bela sem senão, o empestado aroma adocicado no início do Verão. Mais do que tudo, sinto alegria e aconchego ao olhar para uma tília. Sinto-me regressar a casa.
Este Sábado foi dia de recebermos a minha sobrinha Pipa. E eu não queria, mesmo. Mas teve que ser, tenho que tratar bem as visitas, por isso preparei qualquer coisinha para ela comer.
Depois de se alambazar com o melão, foi-se recostar e bateu uma soneca.
Uma paz-de-alma, nem sombra do mau-feitio do pai Nico.
Fisherman's Walk Beach - Bournemouth, Julho de 1990.
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(uma vez mais: fotografias de fotografias.)
O medo paralisa e, sabendo disso, a magnífica máquina que o pescoço sustenta desdramatiza. Banaliza o perigo para que possa com ele conviver e sobreviver. Levanto-me todos os dias preparada para rir com patetices ou irritar-me com pequenos nadas, como se a vida fosse eterna. Se só me pesasse a consciência da finitude, que sentido faria escovar o cabelo se logo em seguida ele se desgrenha? Dar um beijo ao Nuno sabendo que um dia não nos teremos? Convencer clientes que mais adiante se eclipsem? Regar as plantas que acabarão por murchar? Falar ao telefone com os meus pais, sabendo que de cada vez que estou com eles os posso contaminar? Sorrir cúmplice com meus irmãos, sobrinhos e amigos in loco, no whatsapp ou email, julgando que os posso perder? Partilhar e ler opiniões e desabafos na internet, acreditando que tudo terá um fim?
A carapaça de juízo que nos impede de sentir a realidade com crueza integral faz-nos melhores. Dedico-me às tarefas diárias com afã, para ter tempo para os pequenos prazeres diários. Nem dou pelo coronavírus quando ao entrar no autocarro puxo a máscara um pouco para cima para tapar o nariz, por trazê-la tanta vez descaída na rua. Ou se a volto a pôr ao sair do gabinete para cirandar pela empresa. Ao tirar os sapatos ou lavar as mãos quando entro em casa, ou ao esfregá-las com gel desinfectante à entrada no escritório. Todas estas rotinas são feitas por mim – e pela maioria das pessoas, creio – sem a presença constante do gume da navalha encostada ao peito. Seria o inferno se vivêssemos em permanente estado de alerta.
Esta magnífica máquina que o pescoço sustenta – que às vezes desconfia da magnitude da tragédia -, permite que vejamos os sinais do recrudescimento da pandemia e que tenhamos cuidados reforçados sem nos deixarmos amedrontar. É a vida. Tenhamos o jogo de cintura necessário para enfrentar este cobarde coronavírus, que leva sobretudo os nossos mais velhos e indefesos. Saibamos protegê-los, vivendo com sensatez e coragem o agora.
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Não é má vontade, mas talvez fosse preferível que o líder do PAN, em vez da biodança, em vez das práticas estimuladoras da emoção, criatividade e prazer de viver, investisse naquelas que despertam o respeito pela opinião dos outros, pela coerência entre discurso e acção e pelos princípios democráticos. Digo eu, que sendo uma ditadora não teria lábia de me aventurar a criar um partido.
Estas psicologias baratas, estas biodanças, fazem lembrar a moda das acusações contra as pessoas tóxicas. Quem mais se queixa são pequenos tiranetes, que não sabendo o que querem da vida, procuram resolver-se ao infernizar e culpar os outros por todas as suas frustrações. Esta é a grande matriz do PAN: a frustração.
E todos sabemos o mal que vem ao mundo quando quem ressabia ganha poder demais.
Vamos a Palma de Maiorca?
Há um equívoco muito comum: confundir bom português, razão e comunicação inteligente com eloquência. Ora a arte de bem falar ou escrever e saber convencer os outros - a técnica - pode estar a milhas de distância da verdade e da bondade.
É desejável que quem foi fadado com o talento de se expressar com facilidade não se convença - enredado que fique no floreado da argumentação -, que é um oráculo da sabedoria. Essa terá de ir buscar ao carácter e ao coração, mais do que à técnica.
É muito bom encontrar gente que congrega as duas: técnica e sabedoria. É o ideal. Mas na hipótese de se ter que prescindir de alguma delas, o elo mais fraco é a técnica. Esta ao serviço do erro causa maior dano do que a sabedoria amadora.
A tradição: um balão, um desejo em noite de São João.
Vai, voa.
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Sem artifício,
nem intriga
piso o mundo
em pontas,
sem herança
nem vindouros.
Cansa-me
o enredo.
Dos dias
guardo
tão só
labor relaxado
e do ócio
o vigor
imaginado.
Brotam anos
de mesmice.
E memória
de antigas rotinas,
à distância sentidas
grandes façanhas.
Para lá dos laços
apertados
que me atam
aos amados,
natureza, casas
e bichos,
resistem, ora teimosas
ora volúveis,
as ideias.
E sempre
incerta crença
de falhar o rumo,
essa tal
fonte de alerta.
É isso.
Resta só, sólida,
a eterna vontade
de desenlaçar,
guinar,
e partir.
(actualizado a 24/6/20)
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