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Em modo de leitura. É coisa para se estender por umas horas. Com direito a intervalos para descanso, pelas muitas portas de reflexão que abre. De Montesquieu a Scruton: 25 livros fundamentais para a direita e De Marx a Rosa Luxemburg: 25 livros fundamentais para a esquerda, no Observador. Por momentos como este já valeu a pena tê-lo subscrito há uns meses, apesar dos pesares.
A vida é feita de contradições. Não me imaginaria passar três horas a ver um filme de Mel Gibson, figura com quem antipatizo bastante. Mas fui convencida e lá passei uma madrugada a assistir a esta americanada sobre a vida de William Wallace. Valeu pela paisagem e pelas grandes cenas de preparação dos campos de batalha, que sempre impressionam, sobretudo quem como eu se nega a ver a sequência, ou seja, a batalha propriamente dita. Vale também a pena para quem pouco estudou a história de Inglaterra e da Escócia. Pode servir de aperitivo para a busca de informação mais criteriosa. E quem sabe despertar o interesse por melhores leituras.
Apesar deste tipo de filmes ou séries com base histórica, que envolvem campos de batalha e intriga palaciana, me deixarem sempre com a sensação de quem viu um viu todos, gostei de assistir ao Braveheart integralmente depois de todos estes anos em que tinha visto apenas pedaços dispersos. O maior senão é mesmo não conseguir dar crédito a Mel Gilbson, Imagino-o mais sentado à mesa do McDonald’s a dizer umas piadolas, do que a comandar os escoceses na luta pela soberania.
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Adenda. Obrigada a quem me chamou a atenção para a banda sonora do filme, de James Horner. Mais informação aqui.
Resolvi colocar a fotografia do mar em Vieria de Leiria no cimo e já que estava com a mão na massa, acabei por mudar o aspecto da casa. As comezinhas ficaram com um ar aceitável? Hum, parecem publicidade à abertura da época balnear ou das piscinas municipais? Aceitam-se críticas na caixa de mensagens ali na coluna da direita. Recordo que as mensagens não exigem registo e são anónimas, a menos que assinadas no corpo do texto (e mais uma vez, não é indirecta, apenas a explicação de como funciona).
Antes das 13:00h - ida ao supermercado para abastecer a casa de mantimentos para o fim-semana. Fila à chuva de 5 minutos. Loja medianamente preenchida. Sem fila na caixa. Menina de sorriso radiante com a ideia de ir para casa mais cedo.
Depois das 13:00h – ida ao ecoponto. Chuva sem gabardina ou anoraque. Rua deserta. A vista da esquina para a rua principal permite vislumbrar meia-dúzia de gatos-pingados resistentes, seja de carro, seja a pé.
Após as 14:00h - almoço. E intenção de voltar a pegar no espanador.A ver se é desta.
Chiu. Não contem a ninguém mas hoje nesta casa foi semi-Sábado. De modo que posso actualizar a informação sobre o Quanta. Ao que parece, à medida que vamos para um plano mais minúsculo, as verdades que fomos aprendendo sobre a existência e mensurabilidade do tempo e do espaço deixam de fazer sentido. Neste momento, estamos no ponto em que o tempo e o espaço não existem, senão em relação. O que existe é apenas a interdependência.
Peço mais uma vez que não liguem muito. Não valorizem. Sou uma fala-barato e estas tiradas ou conclusões são precipitadas – admoestam-me os que tentam perceber estas coisas com um mínimo de seriedade.
Uma maravilha. Bom dia.
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
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Por mim, e sob o aspecto das discussões estéreis, adiantaríamos o calendário um ano, para nos pouparmos todos à infantilidade.
Obrigada, Kanes. Muito obrigada, mesmo. E uma vênia: é bom ver gente que tem mudado a face do País com bondade, empenho e desinteresse. Não percam: Manifesto do Movimento 7.9.1.a) ao Manifesto Coiso..., por Robinson Kanes.
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É assim mesmo. Às vezes tem que ser a doer. É preciso expôr as luminárias o bafio, para que se perceba a razão do País estar no estado que está. Fartinha de gente que está convencida de ter que educar o povo estúpido, esquecendo-se de se educar a si própria e à sua sobranceria. E, já agora, esquecendo-se de dosear a ambição pessoal: o móbil único de muitos.
Tentando resumir o que penso sobre a questão do Chega: a melhor forma de salvaguardar e reformar a democracia - quando a reforma se impõe para que sobreviva - é trazer a ela as reivindicações legítimas dos extremos, normalizando a situação. É assim mesmo que se esvazia os partidos que representam esse espectro de queixa – sejam de esquerda ou de direita -, dos radicalismos que comportam. Claro que a estridência evangelizadora dominante na comunicação social e redes sociais não percebe isto e continua a demonizar quem vem das alas mais à direita, insuflando-as. Como se algumas das suas queixas não fossem atendíveis. Como se não houvesse direito a existir além do extremismo de esquerda, muito bem recebido no pensamento político corrente.
Não desconheço os perigos da condescendência com o populismo e o fascismo e as lições da história. Sei bem que houve um tempo em que as próprias vítimas – como muitos judeus -, se entregaram crédulas aos carrascos. Mas do que se vê actualmente – como então, aliás -, percebo que há dois carrascos e, infelizmente, as televisões e os jornais só vêem e denunciam um deles. A forma mais imbecil de fazer deflagrar uma guerra é tomar partido cego por um dos lados, tomando-o como puro.
Outra das vantagens da normalização das alas mais à esquerda e à direita é a retirada de peso relativo ao centro, essa massa mole e esclerosada de pensamento político, causadora de muitos dos danos que hoje originam legítimas reivindicações - dos ressentidos mais à esquerda e à direita. Essa massa velha e degenerada perdeu a memória - tão embrenhada está nos jogos de interesse, burocracias e pequenas e grandes corrupções -, da função mais nobre da política: a busca pelo bem comum.
Entretanto sobre este assunto, já havia dito qualquer coisa aqui e aqui.
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