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Bichos

por Isabel Paulos, em 28.02.21

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Enquanto recebo por whatsapp fotografias que me encantam de jardins de Braga – pejados de lindíssimas tulipas – e do Porto, é como previsto momento de postar tolices com cãezinhos e gatinhos. Confirmo que o Ritz é terrorista q.b. – hoje já me deu o primeiro prejuízo, partindo um cachepô. Enfim, momentos felinos exasperantes para quem anda pelo mundo virtual, mas não há o que fazer: não tenho juízo para poupar os outros à beleza ou gracinha da nova mascote caseira. E explico a razão do nome através das imagens abaixo publicadas – do meu adorado Serra da Estrela de criança e do maço de tabaco português que o baptizou. A fotografia do mui respeitável senhor Ritz - já velhote junto da casinha de madeira, com um dos filhotes por perto (mal se vê), é uma das grandes memórias, quanto mais não seja porque a sua chegada em bebé a Valinhas (em 1977?) dentro de um caixote com o irmão Tim é das primeiras e mais emotivas memórias que guardo do mundo. Tal como foi empolgante a entrada da casinha de madeira, outra das grandes lembranças de vida.

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Nostalgias

por Isabel Paulos, em 28.02.21

O que me ocupava o tempo e divertia há 30 (?) anos. Não sobrava espaço para os manuais.

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(cont...)

Quando mudei para esta casa desfiz-me de todos os apontamentos e despojos da faculdade e dos primeiros anos de trabalho.  Foram para o ecoponto. Sobraram apenas livros e códigos. Tal como noutras mudanças anteriores de casa, foram para o lixo resquícios do liceu. O mesmo destino tiveram as notas e os escritos até 2007. Entre 2007 e 2015 quase não escrevi. Do meu mundo de antigamente pouco mais sobrou do que este caderno de apontamentos.

Provérbios e expressões idiomáticas

por Isabel Paulos, em 27.02.21

 

A lisonja faz amigos e a verdade, inimigos.

 

Como fazer crescer a pobreza

por Isabel Paulos, em 27.02.21

A criação do imposto sobre os ricos do teletrabalho é daquelas medidas que soa ao mesmo que o aumento de 77% do salário mínimo na Venezuela.

*

Ao contrário das críticas que usualmente são feitas ao esquerdismo também gosto muito pouco da caridadezita. Acho princípio de muitos males, entre eles o incremento e perpectuação da pobreza.

É por isso que estranho que esta proposta de Poiares Maduro e Susana Peralta tenha adesão da dominância de esquerda e da bem-instalada centro-direita do costume.

Que os entusiastas desta ideia vão até à divisão entre ricos e pobres, maus - aqui ditos burguesia do teletrabalho - e bons já estamos habituados. Percebo bem que se façam autos de fé com recurso ao humor para aliviar a culpa e a falta de inteligência ou por necessidade de agradar aos ouvintes/leitores/eleitores. Tudo expectável em quem é incapaz de ver além do que é o jantar de mais logo à noite. Seria pedir muito que planeasse as refeições para o dia seguinte, quanto mais para um mês.

Mas é com alguma surpresa que verifico que não percebem pelo menos que estão a aderir ao padrão de caridadezita que tanto criticaram na hipocrisia própria de regimes autoritários como o do Estado Novo. Nada como criar uma noção colectiva de culpa sobre os ditos privilegiados, legitimar a negligência do Estado e organizar um peditório entre a sociedade civil – neste caso através de impostos – para ajudar os pobrezinhos. Assim aliviam a consciência e naturalmente garantem que os pobres se mantêm na mesma condição e dependentes da generosidade de benfeitores com tão bom coração.

Nada como esvaziar as competências e obrigações essenciais do Estado para eternizar a estratificação que garante a sobrevivência do privilégio, através de chantagem emocional a que falsamente chamam solidariedade. Nada como esquecer a necessidade das políticas económicas capazes da criação de riqueza – nomeadamente, as de apoio às empresas e criação de emprego -, o escrutínio à gestão dos dinheiros públicos e a corrupção.

Das reacções que tenho ouvido é caricato ver presumíveis apoiantes e delatores de Chavéz e Maduro de mãos dadas a aderirem a esta peregrina ideia que muito deveria agradar a estas luminárias da revolução bolivariana, e cujo efeito útil é o crescimento e a perpectuação da pobreza. Exigir que o Estado resolva com os fundos presentes e futuros os problemas de quem ficou sem emprego, desenhar um plano realista de apoio à economia, às empresas e criação de emprego dá menos sound bites na imprensa e redes sociais, logo, menos ouvintes, leitores e eleitores. Estamos como de costume no domínio da demagogia, a que não se foge por efeito da chantagem emocional.

Como nota, acrescento que face ao parco salário que recebo, muito abaixo do salário médio português, com certeza não seria muito afectada caso se viesse a criar tal imposto. Sucede que não me sossega a consciência dar uma esmola, sem perceber se a pessoa que a vai receber terá o que jantar na próxima semana, mês ou anos. Tal como não me sossega ver o país governado por irresponsáveis que devem agradecer terem sido premiados com mais esta ideia-jackpot.

Mentira

por Isabel Paulos, em 26.02.21

Leio por aí frase presumida de quem sei aldrabão doentio. Tudo quanto me resta pensar: em novita confiei nesse impostor de meia-tigela; serviu para reconfirmar que pouco há mais degradante do que a dissimulação e a cobardia.

De resto, na visão do mundo temos muito em comum. O que comprova que mundividência nada tem a ver com carácter.

Marte

por Isabel Paulos, em 26.02.21

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*

Depois de dar duro, quase a fechar o estaminé caseiro e a retomar as leituras suspensas ao longo desta semana. Espero que o mundo tenha esperado por mim. Tomara não descubra que já pisamos Marte sem que tenha tomado conhecimento de finalmente haver poiso onde arejar dos chanfrados inquisidores que conspurcam o planeta.

Apesar de ter mais fé nas luas de Júpiter, ofereço-me desde já para ir a Marte. Não sei que utilidade teria na viagem, mas há coisas que aprendo rápido.

O próximo livro a comprar nesta casa será sobre as Conquistas do Espaço (ou descobertas, como se dizia no meu tempo de estudante para não ofender os que agora se ofendem com as descobertas) e, naturalmente, não serei eu a lê-lo.

Bom fim-de-semana, gentes.

Tempo

por Isabel Paulos, em 26.02.21

Semana difícil, com muito trabalho. O que vale é que hoje é sexta-feira.

Fidelização

por Isabel Paulos, em 25.02.21

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*

A isto se chama fidelização. Ou será mesmo cerco ao cliente? A petiscar e a ler, quem quer sair de casa?

A formiga-mestra

por Isabel Paulos, em 24.02.21

Tinha fome e resolveu sair para procurar um grão de trigo. Quando deu por si a fazer carreiro e a casa plena de cereais. Disseram que era mestra. Ah? Estranhou, que é isso? Organizaram-se tertúlias sobre o conceito de mestra importado de colmeia próxima. Aproveitava sempre para dormir a sesta nessa altura. A casa estava repleta de trigo. Tinha saudades de ter fome. Disseram que teria de esperar pelo inverno seguinte. Tédio de vida, constatou. Aliciaram-na com várias ideias terminadas em ais, istas e ores. Rogou que a deixassem dormir sobre o assunto. Na manhã seguinte pediu para recuar uma posição no trilho. Precisava de tempo e com este arranjo e réplica diária sempre que perguntavam por ais, istas e ores, recuava um lugar. Andava contente, até ao dia em que passou a última do caminho. Disseram que era mestra. Ah? Pediu mais uma noite de sono sobre o assunto.

Madrugou e antes que acordassem saiu e pôs-se à coca num outro carreiro já formado a distância segura. Quando saíram da terra, aproximou-se e perguntou se poderia juntar-se ali. Ah? Estranharam, quem és? Organizaram-se assembleias sobre o conceito de foragida.

Os alinhadinhos dos tempos verbais

por Isabel Paulos, em 24.02.21

Acho muita piada aos ciosos e ciosas da correcção ou concordância dos tempos verbais. Imagino-os sempre de cabelo muito penteado, vestidos de bibe de marinheiro, meia soquete e sabrina de presilha.

Nostalgias

por Isabel Paulos, em 24.02.21

(obrigada ao velho amigo conservador que me enviou esta preciosidade.)

Na Wikipédia podem obter alguma informação sobre este discurso e o Grupo de Bruges.

Mais uma vez reafirmo que não é vergonha nenhuma consultar a Wikipédia; só por dissimulação e pretensão se faz de conta que não se passa por lá.

Bom dia. É assim que se faz.

Campo de minas

por Isabel Paulos, em 23.02.21

De cedência em cedência, em atenção às constantes críticas dos sensatos, aquele que poderia fazer a diferença, vai-se transformando numa massa amorfa e temerosa enquanto vê vingar a mediocridade e soberba. Apesar de válido e sério, o teimoso sempre em pé convence-se que os reparos de que é alvo acabarão por fortalecê-lo. É falso. Muitas das chamadas de atenção são frívolas, não tendo os autores a menor preocupação em conhecer a natureza e pertinência das razões do alvo da crítica. Tudo quanto sabem e fazem é enfraquecê-lo, por puro desporto recreativo.

Longe do verdadeiro espírito crítico – que não escolhe interesseiramente alvos fáceis para abater nem enaltece os que trazem vantagem económica, social ou reputacional - tudo o que se faz é, ao invés de robustecer quem tem valor, ferir e espoliar a coragem e convicção.

E para cúmulo do cinismo e desfaçatez, findo o processo de extorsão, os iluminados acusam de cobardia o já exausto e eterno desconsiderado. Como se algum dia tivessem conhecido a solidão da razão, apesar de sobre ela dissertarem longamente com grande erudição e nenhuma verdade.

Porquê perder tanto tempo com estes ‘moralismos’ em vez de me limitar a factos objectivos? Queda para o abismo, com certeza.

Sonho

por Isabel Paulos, em 23.02.21

Depois de adormecer cansada mas alegre, acordei angustiada. Sonhei com um pardal num passeio. Quando acordada, sinto os pardais muito ternurentos, mas detesto sonhar com pássaros. Cá tenho as minhas razões. Além de mais, sonhei com multidões desorientadas numa baixa do Porto que só conheço dos meus sonhos. Foi um sono inquieto com as aflições da guerra e do desnorte provocado pela manipulação da ignorância. Sei perfeitamente que metade disto resulta de informação ouvida esta semana. Ainda assim perturba.

Ritz

por Isabel Paulos, em 22.02.21

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*

Hoje foi dia de féria e o silêncio das últimas horas deve-se ao facto do bezerro Ritz ter dado entrada nesta casa. Meigo, mas ainda assustadito como seria normal num gatinho que chegou ao veterinário em muito mau estado. Tem pinta de David Bowie por ser cego de um olho. O que mais fez até agora foi dar uso aos códigos e livros de direito, que acumulavam pó sem que alguém lhes pudesse a mão ao longo destes 24 anos, senão nas várias mudanças de casa. Escondido, tem lido a tarde toda. Creio que vai sair de lá muito mais sábio do que a dona.

 

Errata a 09/04/2021: sem que alguém lhes pudesse a mão ao longo destes 19 anos.

A Selva - Ferreira de Castro

por Isabel Paulos, em 21.02.21

Ao abrir cheira a mofo, por ter sido comprado a alfarrabista na última Feira do Livro, e o recheio é daqueles que começa logo por nos fazer duvidar da ideia de voltar a pegar na caneta ou dedilhar o teclado acreditando que se pode criar o quer que seja. Não tenho dúvida alguma que vou gostar muito do que vem a seguir. No português e para começar sinto-me em casa. A escolha desta leitura prende-se com razões familiares, como já contei aqui nas Comezinhas.

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Guarda-chuva

por Isabel Paulos, em 21.02.21

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Nunca imaginei que viria a passear por vários sites de venda online para escolher e comprar um simples guarda-chuva (chapéu de chuva para os mais chiques).

 

Rui Veloso - Fado do ladrão enamorado

por Isabel Paulos, em 21.02.21

Nós e os outros

por Isabel Paulos, em 21.02.21

Bem sei que estamos todos muito convencidos de saber como são ou deixam de ser os outros, mas talvez fosse mais prudente neste mundo de aparências e julgamentos fáceis perceber que não se conhece outra pessoa nem a sua vida através do que se depreende do que escreve à distância. Apesar de termos a pretensão de achar que a leitura nos permite entrar no mundo do outro, sobretudo, quando se expõe, a verdade é que para conhecer alguém é preciso abertura de espírito, diálogo franco e confiança. E já nem falo de ausência de canalhices, mentiras e identidades camufladas, mas de um módico de decência. Tudo o resto são suposições sobre suposições, que na maioria dos casos não interessam nem servem a rigorosamente ninguém.

Televisão

por Isabel Paulos, em 20.02.21

Apesar de tudo ainda tenho o hábito de ver televisão. Mas pouca: dois jornais por dia, um qualquer programa informativo ou debate e não muito mais. Apesar de ter cento e muitos canais é raro deambular entre eles. Há anos perdi o hábito de ver séries e filmes regularmente. Os poucos filmes que vi nos últimos tempos foram exibidos no computador ou na televisão mas baixados numa pen. Não subscrevo HBO nem Netflix. Familiares, amigos e conhecidos vão-me relatando enredos que começam a ter anos, quando não uma ou duas décadas. Vivo numa realidade paralela. Quando muito e por temporadas dá-me para espreitar o Canal Q e sorrir, a TPA ou o Porto Canal por curiosidade. A BBC, a CNN ou qualquer outro canal deste género num dos momentos periclitantes para o mundo. Os canais de música como pano de fundo. Talvez pontualmente outras estações que agora não me esteja a recordar. Ou então oiço distraída noutros afazeres algum documentário ou debate que o Nuno esteja a ver. Muito raramente e, para perceber a oferta, percorro os canais da box. Já rádio escuto todos os dias. Desde que sempre e por longos períodos.  

Vai longe ano de 1992 em que aderi como espectadora regular à SIC ou mesmo o de 2001, quando comecei a ver a SIC Notícias. E assim me mantive ao longo dos anos. A TVI, salvo uma novidade, um programa ou outro, estava fora de questão e os jornais da RTP com o seu ar sempre muito institucional repeliam-me. Uma vez por outra abria a RTP 2 ou 3.

Com a pandemia a SIC começou a tornar-se insuportável. Bem sei que é impossível fugir ao que está a acontecer e todos os canais se tornaram pelo menos tão repulsivos como a realidade. Mas convenhamos que a SIC com a descoberta da vocação evangelizadora e propagandística se tornou intragável. Quase 30 anos depois percebo que a estação de televisão privada que, contrastando com o funcionalismo público da RTP começou por um projecto novo, mais arejado e independente em que me viciei, foi compactuando ao longo dos anos pontualmente com personagens e circunstâncias que me enojam, até se transformar nos últimos tempos num espaço medíocre, rasca e altamente desaconselhável para quem queira perceber honestamente o que se passa no mundo. Estou consciente que comentários como este são injustos com algumas pessoas competentes que lá trabalham - obviamente, é uma crítica num milhão e é para o lado que dormem melhor.

Dei por mim nos últimos meses a voltar aos jornais, debates e documentários da RTP 1, 2 e 3. Admito que nesta casa o ar se tornou bastante mais respirável. Já nem reparo, como antes, nos separadores e grafismos a lembrar os anos 70 e 80. Não quero saber dos ódios de estimação ao jornalista ou comentador A ou B, nem pensar que pagamos todos para alimentar salários desnecessários e regalias injustificadas. Apesar de tudo na RTP ainda consigo descortinar alguma sobriedade, factos e notícias. Longe das guincharias. Uma paz.  

Três Velhotes, colonização e gato

por Isabel Paulos, em 20.02.21

Faço este postal para desfazer equívocos. A ver vamos quantos mais crio. Conheço há muito a ideia de que na cozinha se devem usar bons vinhos. Supostamente a apurada caldeirada é preparada em bom vinho branco ou whisky. A mesma ideia ditaria usar-se irrepreensível Porto para regar os morangos – hoje em dia ninguém os corta e rega com vinho, sob a acusação de se melar e roubar à fruta os melhores benefícios. Pois, lamento muito, mas aprendi com a minha avó e mãe a escolher vinhos menos bons (não necessariamente maus) para efeitos culinários. Creio ser o que faz a maioria das casas portuguesas despretensiosas. O Três Velhotes é Vinho do Porto vulgar e barato, perfeitamente aconselhável para regar morangos ou salada de fruta - ah, já vejo os especialistas a espernear e aconselhar o saudável sumo de laranja ou de limão para o mesmo efeito.

O dos velhotes não é o único equívoco das nossas vidas. São tantos. Sobre África e a nossa presença em África são incontáveis. Podia recordar a história mais remota, mas por imperativos de lógica começo antes da Conferência de Berlim, promovida por chanceler alemão Otto von Bismarck, na qual se chegou a acordo quanto a divisão do continente africano entre as potências europeias, num desenho a régua e esquadro que naturalmente ignorava ou desconsiderava os sentimentos de irmandade ou de tensão entre reinos, tribos e etnias africanas. Começo então por recordar o Tratado de Simulambuco, assinado em Fevereiro de 1885 pelo representante do governo português Brito Capello, capitão tenente da Armada e comandante da corveta Rainha de Portugal e os chefes e oficiais do reino de Ngoio, que colocava Cabinda sobre o protectorado português.

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Para desfazer o nó em poucas linhas, simplificando ao máximo aquilo que penso sobre a colonização e descolonização, digo apenas que não discuto com o tempo. A nossa presença em África perdurou além do que seria expectável no quadro internacional hostil de guerra fria e a autodeterminação de países como Angola passou mais pelo joguete habitual de interesses entre os dois blocos, do que por um puro processo de descolonização. Acresce que pouco se fala do que eram as colónias antes do período da guerra colonial e seria interessante conhecer sem preconceitos essa realidade e fazer o contraste com o desenvolvimento económico e social verificado em países com Angola a partir da década da 60. Seria talvez prudente estudar os passos que foram dados no sentido de um maior respeito pelos direitos dos africanos – em profundo contraste com as tradições colonialistas -, como o caso da abolição do estatuto do indigenato em 1961, com acesso facilitado à cidadania portuguesa e inerentes direitos, no conjunto de reformas introduzidas por Adriano Moreira, Ministro do Ultramar. Perceber como no curto espaço entre os anos 60 e 70 Angola evoluiu significativamente seja no plano do ensino, primeiro com uma rede de ensino primário, mais tarde secundário e universitário, seja no desenvolvimento das infra-estruturas ferroviárias e rodoviárias. E além de tudo pensar como era difícil a alguns militares graduados introduzir junto dos antigos colonos módicas noções de respeito pela dignidade humana no seio de uma sociedade marcadamente estratificada.

Mas também perceber que reduzir a guerra colonial a uma luta pela libertação de uma nação é tão só ideia enganadora, por se desconhecer a multiplicidade de reinos, tribos e etnias ou simples grupos de interesse com aspirações distintas e facilmente manipulados ideologicamente por facções políticas instrumentalizadas pelos blocos internacionais. O embrião da subsequente guerra civil de 30 anos. Compreender que à época os Estados Unidos estavam fragilizados e a braços com a guerra no Vietname e a União Soviética pretendia substituir-se às potências europeias que iam abandonando o apetecível continente africano, impondo a sua supremacia sob a égide do comunismo. E que em Angola encontraram eco e respaldo nos movimentos de libertação como o urbano MPLA, constituído por uma comunidade de brancos, mestiços e de Mbundu (cuja língua é o Kimbundu) mais letrados residentes em Luanda e arredores, alguns funcionários públicos outros estudantes na metrópole, onde naturalmente começaram a conspirar na Casa do Estudante do Império de Lisboa, com apoio dos comunistas clandestinos, apesar de perseguidos pela PIDE. Já a UNITA, representante da Angola profunda, do povo Ovimbundo, o grupo mais populoso constituído por várias etnias (bailundos, huambos e bies) foi amparada mais tarde pela África do Sul, mas não pelos Estados Unidos, que apoiaram desde início a FNLA, oriunda dos povos Bakongos, do norte e do reino do Congo.

E, finalmente, tentar entender que no meio deste jogo intrincado a população portuguesa que lá vivia independentemente da legitimidade ou bondade da sua presença acreditava, em muitos casos, na autonomia de Angola: acreditava talvez muito ingenuamente numa evolução pacífica e que o país obteria um estatuto de autonomia especial. Não foi assim. Não pode ser assim. O que se verificou foi o abandono, a descolonização descuidada com prejuízo para os portugueses que lá estavam, mas sobretudo para os angolanos. Se bem que reduzir a coisa a portugueses e angolanos é simplista demais: afinal, quem era angolano e quem era português?

O último dos equívocos tem a ver com a razão para escolher adoptar um gato quanto prefiro cães. Apesar da maior inclinação para cães, também gosto de gatos e sempre me poupo ao trabalho e nojo de andar com saquinho na rua a apanhar cocós.

 

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