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O bom de navegar e nadar do lado de fora do porto é que por mais aprumado seja o seu movimento, os poetas e os prosadores do regime nunca saberão o que é levar com a tempestade no lombo e no focinho, apesar de se terem por grandes tripulantes e perorarem sobre antigas glórias injustiçadas. Uns cairão no esquecimento, outros sofrerão naufrágios junto aos portos emaranhados nas doçuras e comodidades, nas intrigas e maus cálculos, tanta é a mesquinharia que consome os seus dias: troca de favores e traições.
No alto mar, por mais inepto seja, o criador vale por si só. No céu, mar e vento o autor vale pelo que é. Aqui, a borrasca e a ruína enobrecem.
Sobre o BES e o Novo Banco escrevi em 22/05/20 os postais Banco bom e banco mau I e Banco bom e banco mau II e em 28/06/20 o texto Leituras ressessas: ainda o BES. Não me parece que valha a pena acrescentar nada.
Este Governo tem o condão de transformar toda a matéria que o poderia colocar em xeque - todos os assuntos que o poderiam comprometer e deveriam ser denunciados pela oposição e escrutinados pela comunicação social - em fonte de ataque aos outros, sejam eles oposição, portugueses malquistos ou outros.
Sei que muitos vêem como causa deste estado de coisas a inépcia de Rui Rio - e o que se chama deriva populista da direita moderada. Não deixa de ser verdade que o líder do PSD tem sido brando e desajeitado, mas a explicação é bem menos simples e está ligada ao caldo de tolerância e de predilecção pelo PS e pelos partidos mais à esquerda de quem tem tido voz em Portugal. O caldo permissivo que fecha os olhos a todos os deslizes dos apaniguados do Governo e dos partidos que lhe dão sustento e está sempre de dedo em riste sobre os conservadores de direita, os liberais de direita, os populistas de direita. Fica por saber que direita é tolerada pela esquerda e por quem tem tido voz em Portugal - onde se inclui uma certa direita cúmplice e de dedo mindinho no ar que gosta de se demarcar até daquilo em que acredita para promover aparente consenso. Talvez uma direita amestrada lhes conviesse para continuar a brincadeira da Democracia Assim-assim.
Rua da Constituição, Avenida de França, Rotunda da Boavista (Praça de Mouzinho de Albuquerque), Avenida da Boavista e Rua O Primeiro de Janeiro.
Além dos vídeos publicados nos dois postais anteriores sobre educação, criatividade e divisão do cérebro, a RSA – The Royal Society for Arts Manufactures and Commerce – tem mais vídeos e animações disponíveis no Youtube. É aproveitar, aqui. O conhecimento e a discussão sobre conhecimento às vezes não estão nos lugares convencionais.
Pela manhã pensei escrever um postal sob o título ‘candura‘, que se debruçaria na alegria de descobrir ingenuidade entre pessoas que de uma forma ou outra se destacam. Pessoas que nunca perdem a humanidade num mundo em que a todo o momento se ouve e lê gente com vontade de esconder a essência do que é para criar uma falsa imagem de sofisticação à semelhança sei lá do quê. Pequenos detalhes ou alusões patentes nas frases ditas ou escritas denotam essa tentativa de demarcação de territórios julgados menores, infantis, enfadonhos ou simplórios. É a busca da sofisticação tantas vezes postiça, mal encaixada no perfil que se pretende embelezar.
Pensei em deixar o texto apenas como agenda para outro dia, de modo a não continuar a massacrar quem passa nas Comezinhas com as minhas moralidades. Tenho abusado nos últimos dias e devia estar a tentar compor o texto sobre a China ou a ler as notícias do mundo de que ando arredia, mas a verdade é que estou com preguiça e é sempre mais fácil debitar comentários moralizadores.
No meio profissional – mas também nas relações pessoais – onde nos deparamos tantas vezes com pessoas egoístas e desatentas às outras, que são o mais das vezes aquelas em quem mais se denota a valorização da aparência e da necessidade de afirmação pela tentativa de sofisticação, é menos comum surgir alguém que ocupa um lugar de responsabilidade com um perfil de candura. Não são abundantes, mas existem. Conheço mal um caso na área da banca. Um homem competente e sério, capaz de empenhar a sua integridade para ajudar terceiros a prosseguir um caminho empresarial e profissional de rigor, delicadíssimo com todos, incluindo os sem-abrigo. Com certeza terá falhas graves que ignoro por conhecer mal, mas quando o vejo no seu fato sempre muito igual, à hora sempre igual, envergando passo leve e sorriso cândido sempre iguais, cumprimento-o com estima e respeito e pergunto-me sempre: por que será que não são estes os exemplos que vingam? É certo que há muita gente boa no mundo. Por que carga d’água se tentará admirar e imitar os piores exemplos?
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