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Maravilha. Absoluta maravilha (ouvindo com o bom som das velhas colunas que coloquei há meses no pc).
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Que belo triunvirato: Obama, Springsteen e Spielberg jantam em Barcelona, no Observador. Inspirador.
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Nota. Já aqui nas Comezinhas tinha referido o desencanto de viver numa zona com muitas comodidades que me atraem, mas de elevadíssima densidade populacional e sem espaços verdes. Apesar dos pesares, daquele mamarracho que se pode ver nas imagens, é melhor do que nada. Água mole em pedra dura...
Adenda. Fui lá. Vim desiludida. Daqui a um ano ou dois darei nota do resultado.
Há-que dosear as tarefas. Não há bela sem senão. Isto de seguir aquele velho conselho de nos impormos tarefas diárias a executar, de modo a não ficarmos aparvalhados, tem o lado bom de introduzir interesse e sentido na vida, mas também o aspecto negativo: podemos ficar com a permanente sensação de estar em falta, o que cria ansiedade. Por exemplo, ando a falhar no excel e naquelas leituras que são segredo de Estado (gosto de hipérboles), hoje ainda me falta o sudoku a síntese do E o Resto é História (ouvi ontem) e ler a alemã (li um capítulo anteontem). Vai ficar tudo para a tarde, não sem antes fazer uma maionese para o almoço (o Nuno acabou de descascar as batatas, o resto é comigo) e seguir para o Parque da Cidade. Em miúda li nos esoterismos que não me devia afastar dos verdes a bem do meu bem-estar mental. Não sei se sugestionada por essa leitura com tantos anos, se é real até por ter crescido cercada de verde, mas o facto é que odeio passar muito tempo sem contacto com lugares fartos em árvores e vegetação em geral. Há quem sinta o mesmo em relação ao mar. Também preciso dele, de espairecer nele os olhos e narinas. Gostando da proximidade do oceano, o certo é que me sinto revigorada junto de árvores, erva, arbustos. Sentir-me rodeada e observar os contrastes de verde sob a abóbada acinzentada, esbranquiçada ou azul riscado com rastos dos aviões. Gozar dos cheiros e sons da natureza e prestar atenção nos pássaros e insectos. Tudo isto me faz falta. Disseram-me hoje que há um projecto para fazer um novo parque não muito longe cá de casa. Fiquei radiante. Vou investigar os planos da Câmara. Um dos meus devaneios é o de fazerem um jardim aqui mesmo na rua, uma vez que está prevista a demolição do Quartel. Mas infelizmente já está prometida mais habitação. Hoje brinquei e comentei que devia ter vivido no século XIX para aproveitar a moda dos passeios públicos. Enfim, arcaísmos de vidas pequenas e desinteressantes. Bem cafona. Nada de menções a moderníssimas e turísticas caminhadas por trilhos e percursos pedestres para encher conteúdos lifestyle. Isso sim seria cool. Vá, nada de maldades, minha menina. Hoje é Domingo, dia de paz e amor.
Malzito. Estive malzito e atrapalhada. Esta madrugada estive mal umas horitas, uma coisita de lana caprina, sem qualquer importância. Ao voltar à cama, depois de tomar um aspegic, pensei: Deus queira que acorde bem-disposta. E adormeci. Agora de manhã acordei sem qualquer incómodo e uma boa-disposição incrível. E estas também podem ser as questões fundamentais da vida. Neste momento oiço o Nuno ao piano, depois de ontem ter estado em dia não. Tão bem feitinha que é a vida. Dá-nos noites para recuperarmos o fôlego e acordarmos bem. Dá-nos alegrias para superar as tristezas. É uma bênção, a vida. Um ciclo tão perfeitinho.
#NÃOPODIAS, de Jaime Nogueira Pinto, no Observador.
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É impressionante como, ao fim de tantos anos, continua a ser preciso dizer o bê-á-bá.
Abstraindo dos inegáveis aspectos maligno e benigno de cada um dos dois períodos, foram 48 anos de ditadura, seguidos de 49 de infantilismo.
Toca a tentar mais umas linhas irreflectidas. De chofre. Afinal ainda há dias, depois de escrever o último texto do género, pensei que devia tentar engrenar e conceber qualquer coisa - hesitei em escrever obra, história e algo, porém obra é pretensioso, na história cansam os enredos e algo é poucochinho. Mas lá terei de arranjar termo correcto para definir o que faço, sem ser redigir linhas ou textos. Diria pensamentos se não fosse pueril, diria crónicas se o catálogo me coubesse. Diário, talvez tudo se resuma a diário. Ou simples notas soltas. Cai-me melhor. Não é importante agora, já dediquei seis linhas à casualidade. Abramos outro caso a apreciação. Hum, qual? Não sei mesmo. Pensei na conversa com o M. de há uns dias, mas ia cair no meu criticismo de sempre, mais uma vez admitido em diálogo. Passo sempre estas fases em que compreendo o quão pouco acrescentam pessoas gananciosas que se têm em grande conta. O M., como de costume, referiu meia-dúzia de nomes de pessoas cuja opinião ouvia e lia e um tédio enorme apoderou-se de mim. Tudo é redondo e fútil. É uma sensação comum a muitos que se cansam dos excitados interesseiros que ocupam o espaço público. Progressivamente fui deixando de lhes prestar atenção. Ainda há um ou outro que me levam tempo precioso, mas também esses irão à vida, mais rápido do que imagino, presumo. Dou crédito inicial por mais reservas sinta, retiro o aproveitável e passo adiante que se faz tarde para perder tempo com malabaristas. Cansada de gente falsa, arrogante e pretensiosa que se toma por esclarecida, capaz de entender o mundo e a todo o momento através da opinião enviesada e viciada se limita a engrenar na disputa do poder pelo poder. Pelo jogo, pela diversão, pela vaidade. Alguns no meio de tudo isso fingem procurar a luz da simplicidade para descanso da consciência. É tão só isso, um refúgio. Jamais renegam ao mundo do interesse, do artifício, da hipocrisia. Dissimuladamente fazem de conta que apreciam a lado honesto da vida, todavia limitam-se a achá-lo fofinho e caricato. Um apontamento bucólico a cortar o tédio da paisagem. Gozam de eterno desdém pelo verdadeiro, que consideram fraqueza e menoridade. Tomam-no por ignorância. Podem ficar onde estão. Longe. Bem longe. A distância que nos separa será sempre abismal. Adiante. Venha mais um caso à apreciação deste colectivo de juízes que é cada um de nós. Ah, e tal e coisa, não devemos julgar os outros. Ah, a verdade é relativa. Ah, todos temos imperfeições. Ah, a pluralidade de opinião é fundamental. Quanto mais o afirmam, mais julgam dissimuladamente, mais tecem e manobram na sombra a teia dos interesses e privilégios próprios ou de poucos, fazendo passar este jogo sórdido por defesa da democracia. Na aparência da tolerância criam uma sociedade desdenhosa. Incentivam sub-repticiamente os ódios latentes na sociedade, as invejas, os ressentimentos. Escarafuncham-nos para provocar mais dor e fazerem-se notar por contraste, para realçar a sua suposta superioridade moral e intelectual. Na aparência da tolerância, acicatam a violência: fazem de conta que combatem o ódio apenas na busca de maiores audiências ou do voto supostamente moderado. É a arte da farsa. A vitória da esperteza e do oportunismo alçados a sofisticação e do argumento a valor supremo de tolerância. A imposição do respeito por espertos demagogos de retórica fácil que aproveitam a apatia e silêncio de muitos para cativar os excitáveis e sempre mais interventivos e barulhentos. A vitória da ruidosa maioria das controvérsias, das questiúnculas, das causas rentáveis, da manipulação e culto da indignação sobre a discrição do bom senso e da busca do melhor para todos. A vitória dos interesses de alguns em prejuízo do todo, nunca abdicando de interesses próprios em benefício do bem maior. Desde a base ao topo de pirâmide da sociedade disseminou-se a farsa da esperteza e do oportunismo. É a derrota da inteligência e da sensibilidade, sempre desdenhada e descartada por não vender nem inflamar.
Água mole em pedra dura...
A Turquia aguarda-me em Outubro.
Búú´uú´´úú´á´´aá.
Acabaram-se as férias e não fiz peva.
Hum... o que vale é que segunda-feira é feriado: Dia do Trabalhador.
De punho erguido: o povo unido jamais será vencido!
Poder, poder, poder e não puder - na lousa, 100 vezes poder.
Escrevi duas vezes 'puder' no lugar de 'poder' no post anterior. É daquelas coisas que não faz sentido: ao reler agora, saltou-me de imediato o erro à vista, mas no momento deu-me qualquer coisa má. E é assim: de castigo mais uma vez. Passo a vida nisto. É uma tragédia. Sorrindo.
Comecei a manhã com a minha mãe indo buscar uma simples cadeira de televisão de palhinha, daquelas baixas de braços confortáveis, a casa do marceneiro. Estava bonita, com a palhinha mais escurecida e a estrutura sólida e bem tratada. Ao observar o artesão, com aquele ar e tom de conversa pausado de quem não deixa escapar pormenores e tem uma vida inteira para cada peça, por pouco valor que a dita possua, lembrei-me da graça com que a minha avó apelidava o Sr. Bernardino, marceneiro que tratava as muitas cadeiras e móveis velhos e escaqueirados de Valinhas: o meu herdeiro. Lembro-me de o ver trabalhar, da tábua e da plaina, do serrim, das lixas, das colas e sobretudo da delicadeza e paciência infinda com que lidava a arte. É outro mundo. Ao entrar no carro comentei apenas que não deve ser fácil a convivência diária com pessoas com estas características, por mais as admire. Mas agora caí em mim e lembrei-me que o Nuno em adolescente no Brasil esteve um ano numa marcenaria a aprender a arte, tal como tirou um curso de electrónica por correspondência e se dedicava ao aeromodelismo. Enfim, um coca-bichinhos. Amancebei com um coca-bichinhos e nem é tão difícil a convivência com um homem minucioso.
Seguimos para o GaiaShopping no intuito de comprar um vestido. Entrada directa na Natura, et voilá: não um, mas três de uma assentada. E tal e coisa aproveitar a promoção (sei, engodo) do Dia de Mãe: compre dois, leve o terceiro de graça. O espantoso é que há décadas uso quase em permanência calças, sendo raro vestir saias e vestidos. Marcas de uma meninice com fases de vários complexos. Nada de surpreendente num tempo e mundo onde se valoriza excessivamente a imagem, a magreza, os estereótipos e o diabo a quatro. Mas não há como a vida para nos dar um banho de realismo: ter engordado muito, chegando a pesar durante quatro anos mais de 100 quilos, deu-me uma perspectiva diferente e ensinou-me a valorizar depois de perdidos 40 quilos a felicidade de estar bem comigo mesma, ainda que com um peso que arruinaria a minha auto-estima há 30 anos, como a da maioria das mulheres. A idade talvez ajude, se bem que haja quem aos 70 anos continue com as fixações na magreza de meninas de 20. Quão longe me sinto dessas manias hoje. Tenho outras: fiquei a pensar que durante esta Primavera-Verão vou usar collants já que não tenho 20 anos e vestidos sem meias me ficariam francamente mal. Não sei se é moda ou não (até sei, mas adiante), mas assim farei, tal como vesti de modo descontraído anos a fio em espaços onde quase todos primavam por envergar trajes mais formais. Não faço questão no desalinho, é-me natural. O que me custa é ir contra aquilo que me parece bem, ainda que pareça mal à maioria.
Ontem fizemos bolo de mármore. Digo no plural porque o Nuno ficou com a parte mais chata e trabalhosa, que é lavar as tralhas e segurar na batedeira tempos infindos - a falta de paciência que possuo para esse tipo de tarefas é a prova provada de um dos meus múltiplos defeitos. Por mim atirava tudo para dentro da taça, soprava e o bolo aparecia feito e bem feito. Tal como a vida: soprava e seria talentosa e feliz. É uma valente seca não ser assim. Mania de contrariarem a menina mimada. Resultado: fiz o bolo a olhómetro e, naturalmente, abateu e o chocolate foi para o fundo (claro que não há fotografias a provar o fiasco). Mas estava bom. Valha-nos isso. Tal como a vida, até nem está má. E é assim esta vida de batoteira.
Que de mais premente ainda tenho para contar? Decidi por uns tempos (espero não desdecidir) não iniciar mais nada: não há mais croquis de futuras narrativas, nem mudanças de hábitos, nem mais estratégias da treta, até pôr em prática e concluir importantes planos que havia determinado antes e vão sendo sempre procrastinados (ui, usei esta palavra; e mais adiante vou falar em criatividade; o mundo deve estar a ruir).
Os últimos dois anos foram desafiantes e de mudança. Os gastos muito acima do que me habituei na década que os precedeu. Vivi muito frugalmente durante bons anos e um pequeno desafogo financeiro, além da vontade de melhor qualidade de vida independente do aspecto económico, fez com que introduzisse várias alterações no meu quotidiano (além das surpresas que se impuserem sem contributo da minha vontade). Viver num país onde os salários de muitos são miseráveis faz-nos valorizar qualquer pequeníssimo incremento. Há pouco menos de dois anos comecei a trabalhar para duas empresas em simultâneo, senti-me francamente bem, ao fim de tantos anos a fazer o mesmo, com a introdução de novas tarefas (não lhes chamo competências, nem uso o jargão da moda, por não ter paciência para eles). Já criei rotinas novamente e, neste momento, tudo corre sereno. A ver vamos por quanto tempo, já que nada é seguro: no Outono passado houve a possibilidade ficar no desemprego. Há ano e meio comecei um tratamento com alinhadores invisíveis dos dentes já que nos últimos anos a minha boca tinha decidido desalinhar dramaticamente, ao ponto de me envergonhar. Há ano e meio tenho consultas mensais na bem-disposta dentista que me acompanha. Há quase dois anos comecei a fazer sessões de depilação a laser, parando o último ano. Neste momento, ando nos retoques. Há menos de ano e meio fiz a cirurgia para colocar o bypass gástrico, com perda de 40 quilos. Há um ano a empresa para a qual trabalho sofreu ataque informático daquela sinistra máfia de hackers russos que atacou tantas entidades pelo mundo fora, estando semanas (meses) a trabalhar em condições difíceis e sujeita a um stress medonho. Nessa altura estive internada no hospital novamente para tratamento da infecção da vesícula e sua extracção. Danada por não poder continuar a ajudar a tirar-nos do sufoco. Nos últimos três anos pagamos uma batelada de dinheiro para as obras exteriores do prédio onde vivo e o raio das obras nunca mais começam (ah e tal, as empresas de construção não têm mãos a medir com tanto trabalho). Do lado das alegrias, voltei a fazer uns dias de praia no Algarve, que era um desejo nos últimos anos, sempre adiado não só pela questão financeira, mas também pela logística (o facto de não conduzir e o Nuno ter deixado de o poder fazer complica a vida; sim, sei, devia ter tirado a carta). No início do Outono passado fui a Amesterdão, como me apetecia há muito. E esta manhã fui à agência de viagens na intenção de comprar bilhetes para a Turquia. Só é que (como dizia um professor alemão), só é que fiquei de pensar mais um bocadinho por causa dos cifrões. É possível que acabe a decidir não ir, colocando um ponto final na vaga extraordinária de gastos com esta viagem, que num país de cidadãos com rendimentos normais não seria excessiva mas vida vulgar. Todavia a mim, portuguesa remediada que procura não recorrer ao crédito, soa a luxo. Digo remediada, consciente que é tudo uma questão de perspectiva: muitos compatriotas nas mesmíssimas condições, isto é, com vencimento abaixo do salário médio português, dir-se-iam pobres – táctica muito usada por gente videirinha, fazer-se de pobrezinha – e outros dariam a imagem de gente abonada, engrenando em difíceis vidas de aparência.
Mais testemunho é difícil. À mercê de julgamento…
Já que o post está comprido, estendo um pouco mais só para acrescentar que o telemóvel anda a dizer que sou uma rapariga criativa e fora da caixa. O que me havia de faltar ao chegar aos 50: descobrir nos testes de personalidade online que sou sensível e criativa. Podiam ter avisado antes, não? Agora já não sei se vou a tempo de criar obra. Sorrindo.
Adenda. Voltei à Natura para trocar dois vestidos tamanho L por M.
Às vezes tenho a sensação que Deus brinca comigo, trocando-me as voltas: quando faço tudo errado, tudo bate certo, quando acerto, desalinho. Que raio de existência é esta, tão incoerente? Não saber nunca com o que se conta, com o amanhã. Até da paz duvidar, por estranhar a dádiva. Incerteza, é tudo quanto é dado. Incerteza adjectivada de boa ou má, porém sempre volúvel. Seria bonito dizer que aqui reside a beleza, como já disse lá atrás. O tanas, que o belo arde de dor. Renego o belo e a arte, se preciso for, não por um prato de lentilhas, mas por um módico de confiança.
Numa época em que vingam a aparência, a reivindicação e cada um tomar-se por modelo de conduta e orientador de aspirações, importa por contraste, e pese embora não seja atraente nem vendável por mal interpretado e incompreendido, dar testemunho do que se é e do que existe, ao invés de, na qualidade de semi-deus, reclamar o Olimpo.
Foram umas horas a fazer um primeiro levantamento dos posts a aproveitar para As Tílias, A Tília, Quinta (ainda não fixei nome). Durante as quais muito me passou pela cabeça, desde o "pronto, está feito", até ao "não faço a mais pálida ideia de como agarrar nisto, seguir o croqui inicial juntando os poucos escritos não publicados e construir uma estrutura coerente", passando pelo "epah, estou fartinha de memórias e família e de mim, vou largar esta coisa toda e zarpar para uma vida". E foi assim o estado de espírito desta madrugada. Amanhã logo se vê. De qualquer forma, fica este post em banho-maria. Quem sabe o complete e lhe dê atenção noutra altura. Neste momento, estou farta.
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Noite, a 12 Janeiro 2020, Compromissos, a 02 Fevereiro 2020; Espanto, a 09 Fevereiro 2020; Alegrias, a 14 Março 2020; Tílias - Rua N. S. de Fátima, a 18 de Fevereiro 2020; Os livros que não li, a 11 Abril 2020; 2020; Tílias - Compor os Sonhos, a 18 Fevereiro 2020; Elo de vida, a 09 Março 2020; A ponte, a 28 Março 2020; O dia seguinte, a 13 Abril 2020; Dramas, a 13 Abril 2020; Tílias - Brilho e Falsidade, a 23 Abril 2020; Sonhar, a 01 Maio 2020; Verdes - Tílias,Conversa, a 15 Maio 2020; Respirar, a 16 Maio 2020; Noites atrevidas, a 19 Maio 2020; De volta à realidade, a 04 Junho 2020; Bafejada pela sorte, a 18 Junho 2020; Almoço, a 20 Junho 2020; Lanche, a 20 Junho 2020; O agora, a 26 Junho 2020; Sábado a 27 Junho 2020; Verdes - Tílias, a 28 Junho 2020; Verdes - Mentrasto, a 30 Junho 2020; Verdes - Flores campestres, a 02 Julho 2020; Verdes - Couves, a 08 Julho 2020; Ele há vidas boas, a 13 Julho 2020; Os castelos na areia, a 25 Julho 2020; Verdes - Frutos, a 11 Agosto 2020; Passear, a 14 Agosto 2020; Até breve, a 18 Agosto 2020, Interlúdio, a 03 Setembro 2020; Ferreira de Castro, a 06 Setembro 2020; Chuva, a 19 Setembro 2020; Essencial, a 09 Outubro 2020; A despropósito de Hemingway, a 17 Outubro 2020; Apontamento, a 18 Outubro 2020; A caminho do Jardim Botânico, a 18 Outubro 2020; Verdes, a 19 Outubro 2020; Xícaras & Canecas, a 07 Novembro 2020; Verdes - Milho, a 16 Novembro 2020; Porto, a 27 Novembro 2020; Automóveis, a 29 Novembro 2020; A Tília, a 04 Dezembro 2020; Tílias - Rua General Torres e Brasil, a 08 Dezembro 2020; Meio Sábado, a 19 Dezembro 2020; Paul McCartney Carpool - Let It Be, a 31 Dezembro 2020; Perborato, a 03 Janeiro 2021; São Miguel, a 16 Janeiro 2021; Fiel da Balança, a 16 Janeiro 2021; Costura, a 23 Janeiro 2021; Mais automóveis, a 30 Janeiro 2021; Diário, a 06 Fevereiro 2021; Três Velhotes, colonização e gato, a 20 Fevereiro 2021; Bichos, a 28 Fevereiro 2021; Risco mal calculado, a 12 Março 2021; Trigo e Joio - Serra da Estrela, a 13 Março 2021; A gémea, a 18 Março 2021; Vidas incontáveis, a 25 Março 2021; Futebol, a 27 Março 2021; Ponto de situação, a 04 Abril 2021; Personal trainer e genuflexório, a 08 Abril 2021; Sobreviver, a 09 Abril 2021; Serralves, a 17 Abril 2021; O pesadelo, a 22 Abril 2021; Sonhos, a 28 Abril 2021; Umbigo, a 15 Maio 2021; Casa & Conforto, a 15 Maio 2021; Planos, a 19 Maio 2021; Tílias - Filha e Maternidade, a 20 Maio 2021; Crapô, a 05 Junho 2021; Diário da Varanda, a 11 Junho 2021; O cúmulo da sinceridade, a 24 Junho 2021; Brancas e pretas, a 07 Agosto 2021; Diário, a 08 Agosto 2021; Sábado, a 14 Agosto 2021; Panca das casas, a 18 Agosto 2021; Computadores, a 22 Agosto 2021; Inconfessáveis, a 02 Setembro 2021; Caminho, a 06 Setembro 2021; Tílias - 11 de Setembro 2001, a 11 Setembro 2021; Diário, a 13 Setembro 2021; Céu nocturno estrelado, a 25 Setembro 2021; Tílias - Chave em Christchurch, a 28 Setembro 2021; Setembro, a 29 Setembro 2021; Verdes – Japoneiras, a 06 Outubro 2021; Tílias - Maçãs e Batatas, a 17 Outubro 2021; Diário, a 17 Outubro 2021; Silo, a 20 Outubro 2021; Mais íntimo é impossível, a 24 Outubro 2021; Verdes - Caminhos, a 10 Novembro 2021; Grande toalha branca, a 10 Novembro 2021; Diário, a 20 Novembro 2021; Verdes – Alho-porro, a 20 Novembro 2021; Diário, a 27 Novembro 2021, Tílias - Jerusalém há 2000 anos, a 28 Novembro 2021; O que não se costuma dizer, a 01 Dezembro 2021; Diário, a 05 Dezembro 2021; Verdes – Bichos, a 09 Dezembro 2021; Tílias - Avó, a 13 Dezembro 2021;Pequenos evangelhos atrás da porta, a 13 Dezembro 2021; Tílias - Virinha, a 04 Janeiro 2022; Tílias - Sonhos, a 09 Janeiro 2022; Lembrete, a 26 Janeiro 2022; Diário, a 29 Janeiro 2022; Tílias - Livros da infância, a 31 Janeiro 2022; Diário, a 12 Fevereiro 2022; Tílias - Café, a 18 Fevereiro 2022; Diário, a 20 Fevereiro 2022; Funil, arroz de polvo e originalidade, a 06 Março 2022; Tílias - Cozinhotes, a 31 Março 2022; Verdes, a 03 Abril 2022; A Guerra, a 06 Abril 2022; Diário, a 09 Abril 2022; Tílias - Anciãos, a 17 Abril 2022; Tílias - Avó Rosa, a 24 Abril 2022; Diário, a 30 Abril 2022; A minha multidão VI, a 12 Maio 2022; O outro, a 14 Maio 2022; O drama, a 02 Junho 2022; Tílias - Regueifa, a 05 Junho 2022; Verdes - Água, a 06 Junho 2022; Cem razões para viver, a 18 Junho 2022; Dia de tempo incerto, a 22 Junho 2022; Diário, a 26 Junho 2022; Guilty pleasures, a 05 Julho 2022; Diário, a 10 Julho 2022; Dois lados, a 18 Julho 2022; Divagações sobre sonho e morte, a 24 Julho 2022; Cigarros, a 28 Julho 2022; Diário, a 31 Julho 2022; Diário, a 07 Agosto 2022; Memórias de infância, a 14 Agosto 2022; Três notas, afinal são quatro, a 16 Agosto 2022; Encurradada, ou talvez não, a 16 Agosto 2022; Obrigada, a 18 Agosto 2022; Um segredo, a 18 Agosto 2022; Disparates, a 21 Agosto 2022; Os outros, a 24 Agosto 2022; Três filmes, a 03 Setembro 2022; Amálgama, 06 Setembro 2022; Jardins do Palácio, a 06 Setembro 2022; Autocarro 203, a 09 Setembro 2022; Rua de Miguel Bombarda, a 15 Setembro 2022; Diário, a 28 Setembro 2022; Vladimir Putin, a 30 Setembro 2022; Tarde, a 03 Outubro 2022; Eca, 4 de Outubro 2022; Desabafo, a 09 Outubro 2022; Mais uma batota, a 09 Outubro 2022; Memórias, a 09 Outubro 2022; Viajar, a 11 Outubro 2022; Tagarela, a 12 Outubro 2022; Misto de agenda e diário, a 13 Outubro 2022; . 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Amor à natureza..., a 21 Dezembro 2019; Passado, a 02 Janeiro 2020; Mentira, a 06 Janeiro 2020; Amor, a 06 Janeiro 2020; 20/10 aA cura, a 28 Março 2020; 13 de Janeiro 2020; Pé no chão, a 05 Abril 2020; Pudor, a 12 Maio 2020; Réstia de Luz, a 31 Outubro 2020; Dignidade, a 06 Janeiro 2021; Pasmada, a 15 Fevereiro 2021; Ilusão, a 09 Março 2021; Conversas simples, a 09 Março 2021; Confiança, a 10 Março 2021; Amor, a 16 Abril 2021; O ponto final, a 27 Maio 2021; Fogaça, a 13 Junho 2021; Buraco negro, a 23 Junho 2021; Aos ladrões da luz, a 09 Julho 2021; Amor, a 22 Agosto 2021; Cegueira, a 29 Agosto 2021; Misérias no feminino, a 08 Setembro 2021; Dizia ele, a 09 Setembro 2021; O tempo ajuda a perceber, a 28 Outubro 2021; Estridência, a 18 Dezembro 2021; Despertar, a 05 Março 2022; Transparente, a 04 Abril 2022; A minha multidão IX, a 22 Maio 2022; Ingenuidade, a 24 Julho 2022; Estabilidade, a 29 Julho 2022; Mais uma pitada de mau feitio, a 07 Agosto 2022; Três filmes, a 03 Setembro 2022; Ridícula até ao fim, a 19 Abril 2023.
Desde as oito horas a deambular, primeiro pelos pensamentos, depois pelas Comezinhas. Na última hora deu-me para colocar na pesquisa a palavra "amor" e ver os resultados. Ia escrever que já perorei muito sobre o tema, mas estaria a ser francamente estúpida comigo mesma e hoje não me apetecem maus tratos. Estou com a má sensação de ter desperdiçado meio dia sem "fazer nada", mas na realidade tudo o que fiz nas últimas horas, não foi mais do que fiz no resto da vida e me transformou no pior e melhor do que sou. Passei parte importante da vida a pensar, até me doerem as costas. A seguir vou e elencar as muitas entradas que ajoeirei através da pesquisa "amor". Numa perspectiva fria, direi apenas: muito material, reduzível pouco. Farei o post com o elenco. É possível que me escapem entradas cujo tema é o amor, mas não etiquetado. Porém hoje não os procurarei. Seria trabalho a mais.
Adenda. Já publiquei o post Amor Militante, nele não inclui textos extensos onde haja referências pontuais ao amor, por ser cansativo para quem lê.
À sorte. Abrir uma página de word em branco e escrever à sorte. Esquecer aquele post que estava na calha sobre o livro da alemã e as resenhas sobre as grandes obras literárias em matéria de amor e política e partir para o desconhecido, se bem que ele já está contaminado por tudo quanto vou absorvendo nos últimos dias. Mas interessa aquela sensação boa da lata de pôr os dedos nas teclas sem para elas olhar, tal como não olhar à intenção e ao diabo a quatro. Sair tudo sem premeditação, assim no instante, o que vier à cabeça. Hoje o telemóvel esqueceu-se dos testes de personalidade e resolveu ensinar-me as quatro regras na colocação de vírgulas. Bem podia ter aprendido, mas sobra-me aquela dificuldade de desconhecer os epítetos das categorias gramaticais pelo que à primeira leitura fiquei a pensar: mas de que raio estão eles a falar? Claro que à segunda já tinha percebido quase instintivamente as quatro regras e talvez por isso seja por instinto que coloco vírgulas. Quantas vezes já li a gramática? Disse-me a minha mãe há uns meses que ao longo da vida me via ler a gramática de tempos a tempos. Ninguém dirá. Memória. É preciso memória. É engraçado como não há coincidência entre escrever bem e escrever correctamente. A primeira exige dádiva, a segunda memória. Fazer o pleno seria o objectivo de qualquer pessoa de ambição na escrita. Nem duas vidas me chegariam. E agora? Mais uma vez a recordação das Redacções da Guidinha, as camas de Valinhas com as colchas de quadrados de crochet coloridos e unidos. É assim a memória: não dá para fixar em definitivo a gramática por mais vezes a consulte, mas dá para associar a leitura às tardes em cima das colchas. E ao vento do terreiro alto rodeado de tílias a bater nas cortinas brancas que não deixavam ver para dentro de dia, mas permitiam ver para fora e que a luz entrasse. Gosto da ideia de poder ver sem ser vista, gosto de cortinas, mais do que dos estores interiores mais modernos. Tiram luz e não permitem regular a luminosidade nem o equilíbrio da discrição. Da moderação. E aprecio a leveza do tecido fino em contraste com os materiais espessos dos estores. Há crueza neles, há barreira, ofendem o brilho, toldam a luz. As cortinas finas brancas, de fios ralos e por isso um tanto translúcidas tratam bem a claridade, permitem que exista e penetre nos espaços interiores, são delicadas e acolhedoras. Os estores serão regulares engenhocas de domínio sobre a luz. As cortinas leves têm o talento de respeitar a Natureza, ajustando com delicadeza as carências de todos: do Universo que quer clarear, de quem quer ver e da relação mediada entre os dois. E é assim que os dedos escorregam no teclado sem saber por onde andam, senão por breves segundos em que páram, recolhem à cara, ficando um polegar debaixo do queixo e o indicador e o médio flectidos entre o nariz e o beiço, a meditar por breves segundos: mas para que raio te havia de dar? Que estás para aí a dizer? Ah, respondes a ti mesma: sensação boa de me deixar ir. O cão ladra lá fora e jovens falam alto e batem palmas em brincadeira numa qualquer casa onde se juntam. Gosto destas animações pontuais na vizinhança. Trazem alegria. Agora ouvi umas gargalhadas de gente nova. Riem de forma tonta, como se ri a alegria que é inconsciente e por isso alegre. Não pensam antes de soltar o riso, caso contrário conter-se-iam. Falam alto, estão contentes. E emprestam vida aos prédios contíguos das traseiras. É tão fácil encontrar felicidade tendo tempo e estando atenta. Pela cadência talvez se trate de algum jogo, porque há momentos de silêncio seguidos de reacção: fala, riso ou palmas. Por detrás, mais denso, ouve-se um carro ou outro a passar na rua. Não se ouvem buzinas. Felizmente. Não falemos de assuntos difíceis. Calaram-se. Espero um pouco. E volta a vozearia juvenil em tom um pouco mais baixo. Para onde me virar agora? Sons, imagens, cheiros? Como vejo melhor do lado esquerdo do que do direito aquilo que lateralmente me prende mais a atenção é a cor rosa do candeeiro. Do lado direito as catorze dioptrias corrigidas para qualquer coisa que continua a ser ver muito mal, percebem a almofada do Ritz mas apenas por sabê-la lá. Contudo basta-me olhá-la de frente para vê-la integral. Tal como a página branca do word na qual se desenrola esta sequência de letras e linhas que publicarei com a lata de quem não tem grandes vergonhas do que encabularia pessoas muito respeitáveis e enfadonhas. Talvez faça a operação aos olhos depois das férias do Verão. A ver se faço os exames prévios. Ou será que a prescrição já passou outra vez de prazo? Da penúltima meteu-se a pandemia, da última o pudor em apresentar uma terceira baixa médica no espaço de um ano. É dar mais um bocadinho. Aprecio pouco de baixas médicas, mas tenciono que fique resolvido ainda este ano. Diz o oftalmologista que ganharei qualidade de vida. Pudera, se ficar com apenas 4 ou 4.5 dioptrias nos dois olhos, será um incremento. Além de corrigir a vista cansada, que já ando nos últimos anos naquela fase estúpida de um dia conseguir ler os rótulos e no dia seguinte não me chegar o braço para esticar. Ah, o mundo esplendoroso da meia-idade. E ainda tanto por fazer na vida. Agora que ia começar a viver à séria em aspectos essenciais é que surgem estas niquices, estas pequenas contrariedades. Nada em que não se dê um chute para lá. A jovialidade está no espírito, dizem as almas bem-intencionadas, mas não deixa de ser verdade. Hei-de ser uma criançola de 82 anos a engasgar-me ao acender um cigarro, der por onde der. Mas se não der, não deu. Sou uma troca-tintas. Sem ressentimentos, que a vida é importante demais para grandes exigências e inflexibilidades. Sorrio, mas ficou a cheirar mal, a tabaco. Embrulhei-me toda na tosse imaginária do travar desse cigarro lá longínquo, daqui a 33 anos, e senti há instantes o odor da fumarola. Não me agradou muito, tem piada. Pronto, na altura terei de escolher um cigarro fraquinho e se houver, daqueles com bolinha de menta. O que posso fazer em 33 anos? Há qualquer coisa que dói, e que passou. E se esvaiu. Vida. Não que a quisesse especialmente de outro modo, não que haja especiais arrependimentos. O remorso maior é da Natureza: o tempo. Não o que não volta, porque não queria voltar a nenhum tempo passado em especial. Regredir a algum momento feliz? Para quê, se o trago em mim. Foi. Rever quem já cá não está? Para quê? Se os trago comigo sempre. São. Conquistar o que não conquistei? Que mais faço eu no presente senão todos os dias conquistar? Não é o tempo que não volta que me falta, é o que passou e não posso multiplicar, é o que se esvai face ao tamanho dos desejos futuros, sempre crentes e, céus, tantas vezes totalmente desajustados, tontos e impossíveis. Mas são os meus desejos e ninguém mos tira. Ou melhor, só o tempo os restringe, pressiona, comprime. E a jovialidade contraria, desatina e ri do tempo. Faz o braço de ferro com ele, no canto da grande mesa de jantar de Valinhas, como o avô ensinou. O braço de ferro a ver quem é mais forte. Só o tempo fica mais forte à medida que envelhece, invencível na hora fatal. Mas até lá, ganho eu. Irei engasgar-me aos 82 ao acender o cigarro para mais um braço de ferro. E para mais não me chegam os próximos 33, quero 42 que também dá seis reduzido à base e por isso a palavra é felicidade. Pronto, decidi agora que deixarei o tempo torcer-me o braço aos 91, que dá um e por isso a palavra é amor. E agora vou pôr um ponto final nesta tolice e deixo para outro dia contar esta história dos números terem correspondência com letras e palavras: aprendi em criança na escola, não na sala de aulas de onde conservei sempre muito pouco, mas fora dela. Coisas de rapariga.
Continuo a dar conta das nossas audições selectivas do E o Resto é História… Esta semana escolhi contar-vos o que ouvi no programa O dia em que Hitler ascendeu (legalmente) ao poder. Às tantas era mais fácil colocar o link e limitar-me a aconselhar a audição ou, então, melhor: armar-me em esperta e dizer duas ou três evidências com patoá de pretensa entendida dissimulando a fonte da sabedoria de algibeira. Mas que querem? Tenho manias, gosto de fazer resumos e apanhados. Entretém-me. É um exercício pueril como outro qualquer. Podia fazer sudokus para manter o cérebro oleado, mas faço resumos e apanhados de historiadores. É assim: cada tolo com a sua panca.
Rui Ramos em conversa com João Miguel Tavares, tentando fazer a análise dos factos sob o ponto de vista da época, recorda como Hitler ascendeu ao poder de modo legítimo e democrático. A 30 Janeiro de 1933 o Marechal Hindenburg (herói militar na frente leste na Primeira Guerra Mundial) nomeou Hitler Chanceler da Alemanha. Após incêndio do Parlamento alemão, o Presidente atribuiu-lhe plenos poderes permitindo que o Governo pudesse restringir liberdades.
Mas seguindo passo a passo esta conversa, vamos por partes.
A República de Weimar (cidade onde reuniu a Assembleia Constituinte e assim baptizada por Hitler em tom pejorativo), nasceu com a marca de cedência face ao estrangeiro, no contexto da derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, com perda de território do Império, perda de soberania com a limitação na capacidade militar (impedida, por exemplo, de ter força aérea e um exército com mais de 100 mil homens) e a obrigação de pagar reparações de guerra, sujeitando o Estado à cobrança de impostos sobre os seus cidadãos para pagar aos estrangeiros. No início da década de 20 a Alemanha encontrava-se abalada pela inflação e destruição da classe média e se conseguiu estabilizar a meados da década, logo na crise financeira de 1929, com a retirada do investimento norte-americano, viu-se confrontada com uma onda de desemprego. Nascida da reacção a uma tentativa de revolução bolchevique em Berlim e Munique, derrotada pela dispersão do exército em forças não regulares por corpos de voluntários, a República de Weimar esteve sempre marcada por um clima político militarizado, com partidos munidos de milícias paramilitares e confrontos nas ruas. E o regime político assente numa grande coligação entre sociais-democratas, católicos e liberais que conseguiu sustentar governos no parlamento sendo alvo de contestação pelos comunistas e nazis.
Rui Ramos continua a explicar…
Na perspectiva da época, uma hipotética ameaça de ditadura expectável viria do reforço da posição do Presidente, até porque a Constituição permitia que este pudesse governar por Decreto presidencial sem necessidade de aprovação pelo Parlamento. Não se adivinhava o futuro que conhecemos. O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores, cujo líder tentou tomar o poder sem sucesso em 1923, sendo preso, obteve apenas 2,6% dos votos em 1928, e apesar do disparo da votação na sequência da grande crise de 1929, nas eleições de 1930 aumentou a votação para 18,3%, e em Julho de 1932 para 37,3% e não obstante passar a ser o maior partido do Parlamento, poder-se-iam supor súbitas mudanças de opinião com a melhora da situação económica, já que em Novembro do mesmo ano diminuiu a votação para os 32%. Era difícil supor que Hitler, contestado internamente e encarado como o líder de um partido de protesto, que nunca obteve maioria, chegasse ao poder em Janeiro do ano seguinte.
Contudo, o peso que o Partido Nazi teve, como o mais votado, era importante: apesar de no então regime da Alemanha o Presidente não ter a obrigação de nomear o líder do partido mais votado, já que o Governo dependia da confiança do Presidente, o jogo parlamentar passou naturalmente por Hitler. Na corte do Presidente Hindenburg surgiram duas visões diferentes a disputar o poder: a que defendia uma ditadura presidencialista e a que pugnava pelo regresso ao regime parlamentar democrático, na pessoa de Franz von Papen a aspirar a chefe de Governo. Este tentou acordo com Hitler que recusou, não prescindindo de ser Chanceler. O primeiro, convencido que manipularia o segundo, persuadiu o Presidente Hindenburg a nomear Hitler líder do Governo, tornando-se Vice-Chanceler. É em nome do regime democrático parlamentar que Hitler vai para o Governo: para impedir uma ditadura presidencialista. A somar às razões para a decisão por Hitler, o Presidente recebera informação do Exército que com o limite de 100 mil homens era impossível combater dois partidos que promovessem insurreições armadas, apenas um. Ou seja, era preciso escolher.
À época na Alemanha escolhia-se entre ditaduras: a do Presidente ou a de um Partido? Qual? Em Janeiro de 1933 ninguém estava especialmente preocupado com a ascensão do Partido Nacional-Socialista ao Governo, apesar do exemplo italiano. Mussolini tinha sido nomeado 10 anos antes e gradualmente instalou uma ditadura de Partido Único. Todavia a ditadura que assustava os europeus era a comunista russa (soviética), que exercia violência não apenas política, mas atacava classes inteiras da população. Já Hitler progrediu rapidamente: instalando a ditadura de Partido Único em 6 meses. O incêndio no Reichstag, causado por militante comunista, foi usado por Hitler como prova de golpe comunista, de ataque à democracia, obtendo logo em 28 de Fevereiro Decreto do Presidente a autorizar o governo a restringir liberdades (de expressão, de manifestação, a manter opositores presos), como forma de defesa do Estado contra o golpe de Estado. Em Março de 1933, em eleições livres para um ainda Parlamento plural, Hitler não conseguiu a maioria, mas subiu a votação de 33% para 43% e foi já o próprio Parlamento (com a abstenção de deputados entretanto presos) que concedeu ao Governo poderes de emergência por quatro anos. Apesar disto não houve resistência. Os partidos foram silenciados. Estabeleceu-se a ditadura de Partido Único sem mudar a Constituição.
Rui Ramos continua a esclarecer…
Em 1934 Hitler eliminou os elementos mais radicais nazis, parecendo caminhar no sentido de acordo com o establishment. Até 1938 o exército manteve-se autónomo tendo por referência Hindenburg mesmo após a sua morte. O lugar de chefe de Estado ficou vazio e a vida na Alemanha pareceu estabilizar. A ironia da História é que em 1933 a Alemanha podia ter tido uma ditadura militar e foi com a ideia de que era preciso voltar ao governo parlamentar democrático que Hitler veio a impor a ditadura nazi.
E agora, segunda-feira de manhã, uma semana novinha em folha para encetar e provavelmente estragar. A ver vamos o que de útil e agradável faço na minha vida comezinha e o que a destrambelhada vida pública portuguesa e mundial nos reserva. No meu espírito passa-se tudo ao mesmo nível, a realidade toca-me os nervos, que não são de aço, mas parecem cada vez mais refreados. Ou melhor, não convém ser demasiado optimista, mas por agora estão mais sob controlo, o futuro logo dirá o que vem por aí.
No final do mês de Março, ao marcar as férias, no momento de dar o clique no enter de enviar o email com o mapa conjunto para aprovação, tive um repente e perguntei às colegas se ninguém queria mudar mais nada dos dias marcados. Disseram que não. Olhei para o calendário e vi que os três dias subsequentes ao feriado do 25 de Abril estavam livres e que como costume tinha marcado as minhas férias sempre para diante naquela velha máxima que tento seguir de primeiro a obrigação depois a devoção (coisas aprendidas em criança). Num repente disse às colegas que iria antecipar parte dos dias de Junho para o final de Abril. Elas riram com a gula de descanso e dei o enter no email, gozando da ideia de ter uns diazitos de relaxe próximos.
O que só reparei na semana passada é que segunda-feira é dia 1 de Maio, pelo que amanhã ao final do dia virei para casa e só terei de retornar à empresa na terça-feira da semana seguinte. Ou seja, sem premeditação consegui um fartote de férias. Não direi que Deus protege os audazes, mas sim que a sorte também beneficia os que não calculam.
Este é o tipo de coisas que me deixa feliz. A mim e a muitos. Pensar nas férias. Pus a hipótese de ir a Maiorca, que não conheço, passar uns dias a nadar, torrar ao sol e visitar a ilha, mas vi que as temperaturas não estarão por aí além, e que há dias em que chuviscará. Investiguei condições para lá passar uma semana em Julho, mas acabei por não marcar. Ficará para um ano mais adiante, se a vida o permitir. Conversei com o Nuno e regressamos à hipótese da Turquia em Julho, tanto mais que há a possibilidade de abreviar a estada dos nove para os cinco dias. Há dois anos, quando tive a possibilidade de voltar a viajar, congeminei três destinos: Amesterdão, Istambul e Moscovo e São Petersburgo. Em Outubro passado estive na primeira, em Julho é provável que venha a conhecer a segunda, só falta arredar o facínora do Putin do poder para conseguir cumprir o terceiro propósito. O ano de 2024 parece-me um bom ano para visitar o Hermitage. Há estrategas que conduzem os destinos do mundo ou das suas vidas, e há quem tenha talento para sonhar alto. Cada vez mais alto. Ou melhor, sempre sonhei muito alto, mas agora com a lata de relatar. Chamam-lhe desfasamento da realidade e megalomania.
E é assim que o destino do mundo se confunde com um momento insignificante em que alguém sem a menor importância marca as férias anuais. Sem lições, teorias ou intelectualizações, pois o mundo está farto de catequese ideológica e tom professoral e muito falho de respeito pela realidade comezinha que marca os dias, as aspirações e alegrias sem pretensões dos comuns mortais.
Por falar em sonhos, é estranho mas nos últimos meses quase não me tenho lembrado deles. Acordo sem aquela memória que era habitual. Ainda não me dediquei a explicar a situação, mas estou morta por voltar a recordar de manhã os sonhos tidos a dormir. Sem eles sinto-me manca. Falta uma parte de mim. O que me vale é que também devaneio acordada, senão que seria feito do alento para a vida? Ah e tal, devemos focar-nos nos objectivos reais, trabalhar e concretizar. Gosto tanto dos iluminados ensinamentos dos que não conseguem sentir a realidade e verdade dos sonhos e se mostram muito orgulhosos de, ao contrário dos calaceiros, serem muito trabalhadores e heróis vitoriosos na luta contra as adversidades. Revelam-se tão falhos de entendimento e respeito pelo outro e tanto desconforto na própria pele. Já repararam como desconsideram o esforço, trabalho e mérito de todos os que podem extorquir, bajulando os que trazem vantagem venal e reputacional? É patente necessidade de subjugar ou enaltecer em função da necessidade de afirmação e oportunismo. Valem muito pouco por si próprios.
Somos todos tão diferentes e tão iguais no direito a sentir a nossa vida e as nossas ideias como as certas, as normais. Enfim (que é uma palavra bonita), hoje é Domingo. Um belo dia de chuva e ronha.
E fechou uma semana de trabalho. Dias que acabaram de modo diferente, com a chegada a casa, confecção e desfrute do jantar logo seguido de dormida no sofá. O sono tomou-me de assalto mal terminava o jantar, pelo que dormi todos os dias até cerca da meia-noite, ficando acordada as horas seguintes até por volta das quatro da manhã dormir o restante, o necessário a permitir manter-me operacional no dia seguinte. Neste fim-de-semana reporei os sonos nos horários normais para não abusar da sorte. É bem verdade que convém testar o organismo e o cérebro de quando em quando para ver se ainda obedece a desajustes com a elasticidade suficiente para voltar à normalidade. Mas não convém abusar.
As madrugadas despertas feitas de conversa, leitura e pensamento solto. O telefone continua a fazer-me testes de personalidade – já é maquinal: esta semana fiquei a saber que sou leal e altruísta. Pergunto-me a razão desta psicologia de algibeira, que enche os conteúdos do algoritmo de uma população mundial tonta, nunca dar respostas negativas. Porque não soluções como estas: caro leitor, se viu primeiro o pássaro é uma pessoa extremamente egoísta e desagradável; se viu primeiro o lago não passa de uma trafulha de meia-tigela, se não conseguiu ver as três diferenças em 10 segundos é um calhau. Qual será o motivo para todos sermos brindados com esfregas do ego e na vaidade? O mercado, a força virtuosa das leis do mercado aplicadas à psicologia e a toda a panaceia de entretém. Esta fábula e mentira cria uma mentalidade na qual não há o menor pudor no auto-elogio. Com tantos a afirmarem-se ou a insinuarem-se gente de carácter, bem-resolvida, inteligente, perfeccionista, trabalhadora, culta, amiga do seu amigo, bem-humorada, bonita, leal, cheia de força de vontade etc. e tal. Interessa inchar egos para os manter compradores desta banha da cobra que enche as páginas online. Nada de confrontações com a crua realidade. Apontar defeitos só ao adversário para criar conflito artificial e vender ainda mais banha da cobra. Ou exibir casos reais ou ficcionais de aberrações morais para unir população em volta de uma confortável unanimidade moral - nada vende mais. Opinião diferente só sobre o inócuo para criar aparência de debate e pluralidade de pontos de vista, comoção e audiência. Hordas de leitores dos conteúdos instantâneos online insuflados na vaidade e na certeza. Um protagonista, um herói atrás de cada ecrã, um iluminado e imaculado, sem sombra de dúvida a ensombrar o seu espírito. Se alguma houver, logo será dissipada com um consultar da internet e a certeza refará em segundos o super-homem.
O salto do lifestyle para a informação e a opinião não é infelizmente qualitativo. Mesmo quando há um esforço de reflexão, são tantos os grilhões do preconceito que a maioria da opinião pouco acrescenta ao entendimento do mundo actual. Os vícios são diferentes das páginas de entretém referidas no parágrafo anterior. Aqui não prevalecem as palavras doces e adoráveis para ludibriar almas pouco ambiciosas. Nem o apelo ao linchamento pela exibição de aberrações morais reais ou de ficção. Aqui elas são motivo de glosa intelectual e móbil para cisão de opinião. É um mercado diferente. Mais exigente. Da massa de gente uniforme e indiferenciada, fácil de levar no engodo da avalancha de massificação e manipulação do pensamento, germinam algumas tribos que se têm por sofisticadas por nascimento, educação, formação ou rede de interesses. Gente crente que por ter nascido no seio de famílias com educação ou acesso a um percurso académico ou profissional mais rico ou a círculos de relações de conveniência tem o caminho do conhecimento e da iluminação aberto. Sucede que a Natureza e, em particular a natureza humana, troca as voltas às ladainhas fáceis: o carácter positivo da aspiração à educação e ao conhecimento como formas de aperfeiçoamento pessoal descambam amiúde na triste realidade da ambição desmedida. O conforto intelectual dado pelo nascimento, educação, formação ou relações interesseiras não é garantia de busca de autoconsciência, radicando a opinião numerosas vezes, ainda que reflectida, em mundividências tribais, que mais não são senão ancoradouros para manter o poder ou privilégios de grupo. Assim nascem redes de propagadores de linhas de opinião decalcadas entre si. Estes grupos de amigos de conveniência e conhecidos com valor muito variável – uma associação de néscios voluntariosos e úteis, pequenos ambiciosos e manipuladores encartados - ganham notoriedade e força necessária a fazer passar correntes de opinião, determinando o curso dos acontecimentos, tanto mais quanto mais tiverem acesso aos meios de comunicação social ou influência neles. Determinam a realidade, moldando não só o futuro como o passado, já que com as suas narrativas e intrigas orientam e validam o que é admissível ser considerado facto histórico ou não. Os que hoje mais se insurgem contra a adulteração da História são os que ontem mais contribuíram para a manipulação dos factos históricos, criando o pequeno monstro que temos agora em mãos. Sem autoconsciência não há possibilidade de isenção e independência de pensamento. Quanto mais ardilosas são as técnicas de aparente rigor da informação, mais se revela a manipulação em favor da manutenção das redes de interesse. A ganância das elites que manipulam o pensamento dominante determina o desnorte actual.
De resto a semana decorreu banal. Com um pequeno susto na quinta-feira. E a confirmação de que é muito bom viver perto do trabalho, e trabalhar perto da minha mãe. Deu para lá dar um salto rápido e sossegar pouco depois. A vida cá em casa, depois de um fim-de-semana periclitante, é serena e risonha e faz-me capaz de acreditar em alegrias futuras. Os mais novos são motivo de orgulho e inspiração.
E ontem dei mais uma vez por mim a pensar que começo a despegar daquilo que me desassossega nos últimos tempos. Estava habituada a pegar na trouxa e partir quando queria e quando incomodada pela estupidez alheia. Era-me fácil cortar. Partir. Agora um laivo de maturidade leva-me a perceber que não devo ir embora do meu lugar nem prescindir do que criei e tem valor. Terei é de saber peneirar: estimar quem está por bem e desvalorizar vizinhança mais desagradável e presumida, não dando tempo de antena. Não podemos escolher o que nos rodeia, mas podemos aprender a não nos deixar enredar e perder tempo com o que prejudica e não acrescenta, com o que não tem importância.
Vou tentar nadar amanhã para deixar Domingo completamente livre para a preguiça.
Antes de escrever este postal passei no The Guardian e fiquei saber dos benefícios das vídeo-chamadas para a socialização dos papagaios, da importância de não sobrevalorizar a astrologia determinando o pensamento e acção por sugestão da leitura e interpretação dos astros, e que todos os países da NATO estão de acordo na adesão da Ucrânia, assim que termine a guerra. Nesse dia incerto. Até lá, parece que não dá jeito por implicar conflito nuclear. Esperem aí um pouco, Ucrânia e ucranianos, desculpem lá estarem a ser desfeitos em pedaços, mas é a vida. Valores mais altos se levantam.
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