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A Guerra

- actualizado -

por Isabel Paulos, em 19.03.23

Será que ainda vou a tempo de retomar A Guerra? Comecemos como é hábito pelo pessoal e trivial. Nos últimos meses, já este ano, fui jantar fora quatro vezes. Tentei recuperar o hábito de almoço ligeiro uma vez por semana em café ou restaurante para cortar um pouco a rotina da semana. Na próxima sexta-feira voltarei à companhia da E. e da B.. Mas os jantares são na companhia do Nuno. Dos tais quatro, dois foram em centro comercial, um em casa de amigos, hoje outro aqui perto. A vida muito caseira e baseada no ir e voltar do local de trabalho não permite tomar pulso ao que se passa à volta e é preciso estar atenta. O centro comercial ao Domingo à noite tem chusmas de jovens, famílias com crianças (em regra, uma por casal) e alguns anciãos. As lojas têm clientes a comprar. Os supermercados estão quase sempre cheios. E se há pontualmente casos preocupantes que denotam dificuldades financeiras, o ambiente geral não é de todo de sufoco económico. Mas dizer isto hoje é crime de lesa-majestade, visto que as televisões, redes sociais e as guerrilhas políticas nos mostram o país em colapso financeiro – não é que ele não seja provável de tão provocado. É verdade que alguns restaurantes de rua fecharam temporária ou definitivamente, o que não é estranho ao facto da proliferação absurda de espaços de comes e bebes para acorrer às investidas de turistas. O mercado automóvel apesar de ainda não estar ao nível pré-pandemia está em franca recuperação com aumento das vendas, em particular, de eléctricos. Os profissionais do sector imobiliário contam que 2022, com uma procura muito superior à oferta, foi um óptimo ano para o negócio, apesar do aumento das taxas de juro e da inflação. Resumindo, para um fatia grossa da população a vida corre bem e, curiosamente, não é essa que está sossegada, mas antes a que mais barafusta. Os mais prejudicados continuam como sempre pouco audíveis.

Nada do que disse antes invalida o surgimento de uma real forte crise financeira já que a realidade paralela da especulação informativa e da especulação financeira actualmente são factos muito mais poderosos do que aquilo que existe e é visível. Em Portugal acrescem os tradicionais, mas agora ampliados, incompetência, egocentrismo e corrupção dos serviços públicos e alguns privados e dos seus gestores. Se os efeitos da guerra na Ucrânia vão ficar pela inflação temporária (um, dois anos?, mais?) e se juntamente com o aumento das taxas de juros serão o factor mais penalizante para a vida dos europeus, em geral, o futuro e os economistas cheios de certeza saberão. Hoje vi Cavaco Silva chamar ignorantes aos novos marxistas. É sabido para quem lê as Comezinhas que tenho grande apreço pelo ex-Primeiro-Ministro, mas muito pouco por este tipo de insultos – mas lá está, será normal para quem não tem dúvidas e raramente se engana. A questão principal é saber se a guerra extravasa à esfera global apenas sob o ponto de vista económico ou passa mesmo para o plano militar. Este é o cerne dos postais sob o nome A Guerra que estão a ser redigidos ao correr da pena com a ideia base da probabilidade de estarmos na antecâmara de uma guerra mundial. (Uma espécie de Mil e Uma Noites para a realidade não doer tanto quanto mostrada de uma só vez. Afinal este é o sentido da criação e revelação divina, não é?) O que não é dito, em geral e a direito pelo susto que consubstancia, pelos meus concidadãos.

À ida para a piscina municipal onde nado notei novamente num pormenor que me traz grande alegria. Um detalhe em que reparo há anos aqui na cidade do Porto. Espero que seja realidade mais ampla. Ao Domingo à hora de almoço é comum ver na rua filhos de meia-idade da companhia dos seus pais anciãos. Umas vezes a sós, pais e filhos, outras com outros elementos da família. Cruzo-me todos os Domingos com esta realidade, que me faz orgulhosa da terra onde vivo. Isto é sinal de civilização.

Hoje vi o jornal das 21h30 da RTP2 e fiquei a pensar se não devia tomar o hábito de ver diariamente um jornal sucinto em vez das habituais demoradas ensaboadelas jornalísticas.


18 comentários

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De Cotovia (MC) a 19.03.2023 às 11:46

Esta leitura é substancial, para ir lendo e refletindo, a guerra um tema complexo, emotivo, e subjetivo às nossas próprias experiências. 
Vou ler com atenção e depois digo coisas, mas para já, sim, também optei por ver mais frequentemente o telejornal da RTP2, assim como outra programação desse canal, por estranho que pareça, parecem menos encostados a quem lhes paga do que outros canais, que, supostamente, deveriam ser independentes... só que não. É uma opinião.
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 12:10

(a caminho da piscina municipal; depois do almoço regressarei às bloguices.) 
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De cheia a 19.03.2023 às 14:35

Também me preocupa a inflação, que pode demorar mais tempo do que dizem, por causa da guerra, da falta de produção e do pânico, que pode fazer com que os bancos caíam, cujos lucros são para os acionistas e os prejuízos para os contribuintes.
Tenho uma visão muito mais pessimista sobre a situação económica, porque ainda há muitos pensionistas com rendimentos abaixo do ordenado mínimo.
Quanto a Cavaco Silva, as nossas opiniões não podiam ser mais antagónicas.
Bom resto de domingo, Isabel.
Beijinhos
 
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 15:32

O que diz quanto às pensões é verdade. Ontem ao terminar o post e ao publicar pensei nisso, mas acabei por não rever posição, porque a intenção é ter um distanciamento maior. Por um lado, nos escalões mais baixos um leque maior de pessoas acede a maiores rendimentos (por baixos que sejam, nalguns casos miseráveis mesmo) quando comparados com décadas precedentes e, por outro, não há diferença substancial da situação (mesmo com o abalo da inflação) face há um ou dois anos, quando tudo parecia socialmente pacífico, tanto que o país votou maioritariamente no actual Governo.
Bom Domingo, José.
Beijinho.
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De Cotovia (MC) a 19.03.2023 às 14:53

Li a primeira parte e desta leitura lá deixei ficar as minhas impressões, porque fiquei de facto, impressionada com as reflexões e alguns pontos a considerar, ou reconsiderar... Tanto que estou a pensar que me esqueci de uma coisa importante, por isso fica aqui mesmo neste comentário, vou portanto importunar a piloto Isabel deste avião na sua cabine de voo, tal como desconfiava que iria acontecer:
Reforço, não aos radicalismos ou extremismos;
Sim, concordo, há a necessidade absoluta de escolher um lado, a neutralidade em muitos casos é uma opção de indiferença e permissividade. Na minha opinião foi e é o que permite as guerras no mundo, os campos de concentração e de migrantes, o bulling nos corredores e recreios das escolas, a violência doméstica e de género, a pedofilia, o abuso de poder, a corrupção na política e não só...
Mal comparando, mas já o fazendo, (já pareço os ditadores, fazem exatamente o que disseram que não fariam), acho que se resume tudo a uma pergunta, como aquele programa da Conceição, "-E se fosse consigo?"
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 17:59

Um bom programa, o E se fosse consigo?, da Conceição Lino e de facto a analogia tem todo o cabimento. Quantas vezes nos sentimos cobardes por fechar os olhos, por ser permissivos. Vivo numa cidade que tem fama de dizer as coisas a direito. O que tem vantagens e desvantagens, se a ofensa pode sair fácil demais, por outro lado, não se permite tão facilmente a desrespeito dos outros. Às vezes reparo nalgumas mulheres de meia-idade portuenses no autocarro, e se nuns dias embirro com a selvajaria de irem a dizer tonterias demasiado alto, noutras admiro-as pela forma como “educam” transgressores. Desde o pormenor de recordarem aos meninos(as) malcriados(as) que devem dar o lugar aos mais velhos ou frágeis, como a forma como defendem os direitos dos imigrantes. Há uns tempos assisti à conversa de duas portuenses a elucidarem uma imigrante dos seus direitos laborais, uma vez que achavam que estava a ser explorada. Agrada-me esta solidariedade com quem entra e está fragilizado, ajudando a que se integre. Sobretudo porque sei que as mesmas mulheres de meia-idade que aconselhavam a imigrante, se a vissem desrespeitar uma regra nossa, não perderiam tempo em demonstrá-lo. Há aqui uma dose de coragem (e lábia) na tal tomada de partido que infelizmente sinto estar longe de possuir.

Claro que o mundo está longe de ser perfeito, sendo a realidade muito mais conflituosa do que a visão bonita de se comporem os seus males com palavras e gestos, mas é natural que possam ajudar. :)

As guerras e todo o tipo de violência nascem da sede desmesurada de poder e dinheiro. Aproveitando o que me ensinou ontem com recurso a Schopenhauer, faço um abuso: se a natureza humana não fosse vil, mas inteiramente honrada, a sede de poder teria freio. 

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De Cotovia (MC) a 19.03.2023 às 15:09

E... Sra Comandante deste voo, tenho mais um comentário...
Gosto muito de ler o que escreve, mesmo! E desta troca de ideias e conversas, mas, a qualquer momento que sinta a necessidade de ir da varanda à cozinha, para se ir munir de uma ferramenta adequada para correr com esta vizinha mais suas mexeruquices e banais opiniões, como uma colher de pau, quiçá para coçar as costas , não precisa, é só avisar, como eu às vezes tenho de fazer com uma das minhas filhas:" To much, filha, menos, menos informação, não quero tanta partilha!"
Espero que a natação tenha sido uma boa oportunidade para espairecer, a minha outra filha fez natação durante muitos anos, dizia que era a única altura em que em vez de ouvir os seus pensamentos, sentia a água a passar entre os dedos dos pés, vá -se entender, e que era a única altura em que descansava, o que era verdade pois o treinador apanhou-a a dormir a nadar algumas vezes, verdadeiramente, não sei como é isso possível!?e eu que sempre tive uma relação complicada com a água ficava aflita a pensar que a criança ainda se afogava...
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 15:54

Em vez da colher de pau trago duas xícaras de café. :)
"Menos...dá menos informação", repito-me isto sem sucesso todos os dias. Enfermo do vício muito feminino de falar pelos cotovelos. Pelo que: sinta-se à vontade. 
Percebo bem a sua filha, a natação é um descanso, ainda hoje senti-me a deslizar sem esforço. É uma sensação muito boa. A água é muito relaxante. 
Isso de adormecer a nadar é fantástico, faz-me lembrar uma amiga que caiu na passadeira no ginásio por ter adormecido. ;)
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De Cotovia (MC) a 19.03.2023 às 16:06

 Obrigada pelo café :)

Verdade, pelos cotovelos mesmo, nem "vestindo" esta "capa" de Cotovia me livro deles ;)
Quem me dera ter disciplina, e coragem, para ir à piscina também! Já me informei aqui na piscina do desportivo em Sesimbra, conheço bem o espaço  ;) e funciona com um cartão de aulas em regime livre, pelo que só se paga quando se vai... mas, mesmo assim pareço mais o meu gato Sushi, com nariz de palhaço ( o dele) eu sou só mesmo uma negação para a prática desportiva!
Quem sabe, saber que a Isabel consegue, talvez seha uma motivação para que eu consiga... sem ser por osmose de partilha desta varanda, mas sim com os chinelos, touca, óculos e fato adequado!
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 17:18

Não fiz exercício físico, salvo caminhadas a pé, durante muitos anos. A preguiça era mais do que muita. Até que me vi por razões várias com mais 40 quilos e a aproximar-me dos 50 anos. Achei que devia fazer qualquer coisa depois de ter perdido peso. Neste caso a idade ajudou, apesar de tudo estou mais disciplinada do que era em novita. E como nadar me dá prazer, escolhi a natação. Apenas uma vez por semana, sem pressões nem ideias desagradáveis de obrigação ou sacrifício. Não tenho paciência nem para máquinas nem para aulas. Parece-me que para ter motivação é convivente escolher qualquer coisa que nos dê prazer apesar daquela resistência inicial provocada pela preguiça ou desconforto. Forçar naquilo que não temos qualquer apetência, acaba por ser desmotivador. Com certeza a Mafalda terá alguma preferência entre os desportos. Espero que encontre algum que lhe dê prazer. :) 
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 17:19

*conveniente, digo.
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De Cotovia (MC) a 19.03.2023 às 21:48

Muito boa noite, excelente análise, vou ter de refletir sobre isso, quando o tema é desporto... há sempre aqueles 3 segundos de delay entre cada palavra...fico muito "devagarinho" porque nessa área a força de vontade e jeito para a coisa é muito "poucochinho"... mas vejamos, acho que andar a pé,  pelas vilas e cidades, à descoberta, e a tirar fotografias, era uma coisa que me dava gosto, mas como estou amuada com as pedras da calçada, o edificado em geral e a arquitetura em particular...só se mudar as minhas paisagens para outras mais verdes e fizer caminhadas em percursos naturais... vou averiguar, isso e a caminhada no areal da praia, também gosto, será que conta como exercício fisico? 
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 22:30

Caminhadas no areal, em paisagens naturais, na marginal ou mesmo na vila ou cidade contam sim. O que interessa é mexer.  Noite descansada. 
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De Cotovia (MC) a 19.03.2023 às 23:41

Fiz uma pequena escala nesta viagem, e nesta pausa, ali na dutyfree, enquanto acertava o relógio percebi várias coisas desta nossa troca de ideias:
Primeira, mais importante, devo-lhe um pedido de desculpa, ou vários!
Estive aqui a contaminar o seu, com propriedade "estaminé" com muita falta de noção e total inadequação dos meus comentários quanto ao tema em reflexão! Em vez de me ater ao que realmente interessava, espalhei uma "mexerufada" de ideias e outros assuntos, em divagações que se tem lugar no meu cantinho desalinhado, aqui, neste que é o seu espaço, tem de haver da parte das visitas, mesmo que sejam vizinhas de varanda, um refrear do entusiasmo, vejo agora, que não cumpri.
Outro pedido de desculpas é pelos erros e gralhas, digitação equivocada e outras que tais asneiras, pois até nos anglicismos fui eficiente a dar erros?!
Assim, vou tentar fazer um novo comentário, depois desta escala no aeroporto de pessoas mal comportadas, e regressarei ao voo nas suas publicações, mais recomposta e tentarei elaborar comentários que façam algum sentido.
Espero que ainda assim, uma noite descansada possa ser para a Isabel uma realidade! Não sei não, tenho todas as dúvidas e certezas nenhumas, sou ao contrário do Sr. Dr, ex 1° ministro e presidente da república Aníbal C.S.,(sinistramente este Aníbal soa demasiado a "silêncio dos inocentes"... lá estou outra vez nas divagações...) ou revés, depende da perspectiva..mas sem qualquer pretensão 
Até amanhã, I'll be backpara a leitura da "continuação da guerra"
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De Isabel Paulos a 20.03.2023 às 00:06

Como sou uma malcriadona não aceito os pedidos de desculpa e peço que prometa que não vai enxamear este estaminé com uma postura convencional, certinha, presumida e enfadonha, isso sim seria detestável. Por favor continue nas mexerufadas e no desalinho. Sinta-se em casa. Até mais ler
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De Isabel Paulos a 19.03.2023 às 18:10

*ainda hoje me senti (um dia, quando for grande, vou saber fazer a conjugação reflexa)
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De /i. a 20.03.2023 às 20:24

As viagens nas férias da Páscoa estão com enorme índice de procura.  Os restaurantes fecham e quantos abrem? Não dizem. Para realmente perceber se há crise na restauração. 
O Cavaco Silva enfim... é mais do mesmo. A forma como o governo respondeu é de baixo nível. 
Na rtp2 dão documentários e séries de elevada qualidade. 
Gostava de ver mais esse acompanhamento paia/filhos/avós por aqui... no norte sempre foi diferente.
Beijinhos e bom descanso. 
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De Isabel Paulos a 20.03.2023 às 20:56

A facilidade com que se viaja e faz férias também é reveladora da incongruência entre os índices de contestação e a realidade. Não é que não fosse desejável termos melhores rendimentos e melhores serviços públicos, mas o aproveitamento corporativo e manipulação política são manifestas. 
A forma como se privilegiam os laços familiares e de amizade é uma das razões pelas quais fico contente por não viver numa cidade de maior dimensão. Não aprecio frieza e superficialidade nas relações pessoais. 
Beijinhos. Noite descansada. 

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