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Agenda

por Isabel Paulos, em 22.03.23

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Desembucha, vá. Começa lá a entrada de hoje. Vieste a andarilhar pela rua para vir trabalhar e a moralizar, afinal tais pensamentos dariam um postal. Maçador é certo, mas dariam. Fica aqui como mais um tópico de agenda – hoje vais colocar o cerebrozito azul e tudo para dar algum formalismo à coisa. E seria então uma alusão à forma como em pequena foste educada a saber que uma senhora, sendo dona de casa onde recebia convidados, se não deveria estar desleixada, jamais deveria exibir traje a mais. Deveria ater-se a um trapinho que não constrangesse, mas também não ofuscasse quem recebia. Mais do que dar exemplo, lição que todos acham ter aprendido e capazes de praticar, deveria respeitar as visitas, preocupar-se mais com elas do que com a sua imagem. É certo que se nunca te soubeste vestir, muito menos segundo as modas, resta-te a consolação destas outras aprendizagens, mais subtis e cada vez mais longe do espírito que vinga nos dias presentes. Talvez seja por isso que continuas a não compreender os conselhos de quem explica (palavra tanto mais usada com parcimónia e prudência quanto maior for a consciência) como se come, como se lê e escreve, como se veste, como se viaja, como se ama (tinhas escrito as palavras gastronómicos e indumentária e dá-te um trabalhão mudá-las para aclarar o discurso) – escreveste isto no segundo capítulo do fraquinho O Livro dos Três Princípios, e na altura estavas longe de saber que te ias deparar tão quotidianamente com estas pechas. Em suma, seja no papel de anfitrião seja de conviva o estar em bicos de pés, dando-se por exemplo de precocidade, perfeição, bom comportamento, graça ou talento (enfim, superioridade) são absolutos ridículos e menoridades. Revelam falta de (boa) educação no melhor dos seus sentidos e também falta de inteligência, atitudes como estas: ah, que bem que eu cozinho ou como ao contrário dos incivis, que bem e tanto que eu leio e escrevo ao invés dos ignorantes, que bem que me visto e me distingo dos pirosos, que bem aproveito as viagens e me distancio dos parolos, que puro sou ao amar ao contrário dos tontos. Há uma diferença grande entre dar o ar de civilizado e sê-lo, apesar de não ignorares que cada um tem direito às suas peculiaridades – e céus, aos seus defeitos. Só que lá está: quem atira muitas pedras ao telhado do vizinho arrisca-se às pedradas no seu próprio telhado.

Bom, foste muito além do espírito de agenda. Mas assim vai ficar. Que outro assunto te acorreu no percurso pedestre matinal? As mulheres e a atenção. Podias dizer o ser humano e a atenção, mas preferes focar nas mulheres, ainda que sob o risco te associarem algum tipo de misoginia. Também aqui é uma questão de dose. Se é verdade que uma mulher a quem não é dada atenção ou não é amada tende a amarfanhar as suas potencialidades emocionais e intelectuais, não evoluindo nestas duas vertentes, não é menos verdade que aquelas nas quais recaem a atenção e o desvelo em abundância e não em número – tudo quanto mais desejam, ainda que muitas vezes não o admitam – podem tender a destravar demais, perdendo a noção do ridículo. Além de poderem ser injustas e abusadoras da paciência alheia. Tudo na vida é uma questão de balanço. E neste parágrafo está mais presente um exame de consciência do que o apontar o quer que seja a outrem.

Fica em agenda, para se for preciso bater pela enésima vez na mesma tecla. Teimosa como uma mula, dizia a Eca. E chata como a potassa, acrescentas tu.


9 comentários

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De Cotovia (MC) a 22.03.2023 às 18:52

Ora, ora, para falar francamente, a chegada a casa poderia correr melhor se o Sr. D. Sushi, o amigo gato residente, com de nariz de palhaço e olhos de zorro, não ficasse endiabrado sempre que lhe limpo a caixa de areia, e se ter dedicado, toda a tarde, empenhadamente, a esventrar as costas do sofá.
Por outro lado, também pode correr melhor (a noite, que já se faz tarde) se a Isabel revelar a identidade de semelhante mafarrica que roubou as penas todas do pavão e anda toda engalanada, a gritar cocó-cocóro-cocó sem noção de ridículo, fora de horas, que só se aguenta isso para despertar,e, isto se uma pessoa viver do campo, pois a bicharada não pode esperar.
Assim sinto que a tarefa de desembuchar não está feita como deve ser e deixa muito a desejar!
Quanto a sudoku, nunca consegui fazer nenhum, sou uma negação e sempre que tentei (por incentivo da minha querida irmã) só consigo pensar, porquê, porquê porquê?!
Lavar os dentes com a mão esquerda por acaso até tive de aprender, tudo por causa do mafarrico do rato do computador, nas milhas de linhas desenhadas em CAD, para que todas as pessoas, incluindo a Isabel esta manhã para ir trabalhar, terem a experiência única de se deliciar com a maravilhosa, única e especial, paisagem construída de excelência e capaz de a inspirar a fazer publicações, propiciar vidas mais felizes, e um mundo melhor, só que não, pois é tudo a atirar para o mamarracho, mas é o que temos.
Quando tiver um nome para me dar, irei com minha asa investigadora, encontrar adjetivação apropriada para, com objetividade, e usando o meu cérebro azul ou lá da cor que for, desembuchar em grande!
Beijinhos Isabel, noite tranquila
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De Isabel Paulos a 22.03.2023 às 21:53

Não há nomes, estimada vizinha. Basta-me os próprios saberem quem são. De resto, para os demais fica a ideia e a opinião, que encaixarão em quem melhor couber a carapuça. Afinal todos temos os nossos inimigozinhos e revelar nomes só alimentaria a questiúncula.

Vamos a coisinhas boas, ao Sr. D. Sushi apresento o meu Ritz Maria - também é chique ou pensa o quê? E conto que não só gosta das costas do sofá, como das almofadas e da colcha da cama -já me aviou três. Ando em busca de uma que faça menos fiapada aos puxões das felinas garras. Ah, e também já deu conta de cortinas. Essa felizmente já lhe passou (espero não estar a falar cedo demais).


O absurdo da construção nacional já foi tema que me ocupou o espírito, mas confesso que já desfeei o gosto e ultimamente só se me deparar com um escaganifobético mamarracho é que a mioleira reage, de tão habituada à normalização dos ditos mamarrachos, à desarmonia geral e ao desrespeito pela envolvente seja natural seja humana.


O dicionário da SapoBlogs adora pintar-nos as linhas a vermelho. Só não digo que não lhe passo cartão por não gostar de dar aquele ar de finória mentirosa de quem prescinde dos correctores por escrever exemplarmente. O certo é que lá me vai apanhando um ou outro erro. No fim faço as contas ao que ele me ensinou e eu a ele - acho que estamos quites. 
Beijinho. Uma noite descansada, Mafalda. :)
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De Cotovia (MC) a 22.03.2023 às 22:18

 ao seu Ritz Maria será apresentado o recém batizado Sushi Mau!

Tem razão, não vale a pena nomeações, para estarem no pódio da patetice Cocoricó, não lhes iria adiantar nada o meu ou o seu desembuche, dali não sai nem entra nada que preste
O corretor é um querido, só que não, no diminuto espaço do ecrã do telemóvel, sobra pouco espaço para ele e para mim, a convivência está difícil e provavelmente por questão territorial terei de correr com ele, assim como assim continuo a escrever com erros e gralhas, portanto pode ser que a escrita fique mais, ou ainda mais, espaçosa.
Tão espaçosa como o espaço que aqui venho invadir sem qualquer cerimónia ou pingo de educação, que ele há gente muito mal educadona!
Beijinhos, obrigada por mais esta animada conversa de varanda!
Noite feliz, continuação de boas escritas!

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