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Eis a explicação para o nome deste blogue. Lado a lado com a Mafalda de Quino e as Redacções da Guidinha de Sttau Monteiro, a poesia de Fernando Pessoa, José Gomes Ferreira, Jorge de Sena, Miguel Torga, Sofia Mello Breyner Andresen e Eugénio de Andrade. Com o existencialismo e crueza de Simone de Beauvoir e Sartre, as crónicas de Miguel Esteves Cardoso e Vasco Pulido Valente, os romances de Agustina Bessa-Luís, o esoterismo de Isabel Allende, as narrativas de Collen McCullough e outras páginas que não me ocorreram agora. Com as Histórias da Filosofia de Abbagnano e de Marías, textos de Agostinho da Silva, o Paradigma Perdido de Edgar Morin, o Papalagui de um senhor cujo nome nunca soube pronunciar. Com os dicionários da Porto Editora e Larousse, com os indispensáveis da Reader’s Digest, como o Atlas e Enciclopédia Geográfica e a Enciclopédia Médica, e todas a bulas dos medicamento das casas onde vivi, frascos de detergentes, produtos de higiene, grafitos e autocolantes, papéis caídos nos passeios da rua e o diabo a quatro, na meninice devorei o livro que faz a diferença: Como Fazer Quase Tudo.
Fui educada a considerar importante não só as tarefas comuns e rotineiras, como os trabalhos manuais. Ainda que sem qualquer jeito para muitos deles (como para quase tudo o resto, diga-se), aprendi a dar valor ao que é desprezado por quem tem voz. A valorizar o trabalho considerado menor. E faço disso uma vaidade num tempo em que se considera estupidificante todo o tipo de acção que não passa por grandes doutrinas e intelectualizações. Num tempo em que a rotina de trabalho é ultrajada, salvo ao tratar-se de qualquer tendência moderninha como a cozinha ou o exercício físico. Numa época em que todo o gato-pingado se acha apto a desenvolver complexo trabalho mental. E mais, apto a orientar e comandar os outros. Convencido da sua competência, apesar da inaptidão para as múltiplas tarefas. Certo do seu valor, mesmo quando este se traduz apenas na aptidão para levantar a voz mais alto ou mover melhor influências. Num tempo em que ter perfil para determinada função significa tantas vezes e tão só dar ar de. Dar imagem de qualquer coisa, sem necessidade de correspondência com o real. O real passa a irrelevante. O mundo deixou de ter trabalhadores para ter perfis de líder em cada ser humano. Está cheio de pretensos sábios prontos a ensinar, converter e comandar. Pena que haja cada vez menos gente a querer e saber desempenhar tarefas comuns. As tais que nos permitem sobreviver e ter a sã sensação de dever cumprido.
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