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Conversas íntimas

por Isabel Paulos, em 17.08.20

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A seguinte conversa, muito fiel à tida nesta manhã de Domingo com o Nuno, aclara sobretudo a utilidade de um namorado/companheiro/marido.

*

Nuno, preciso de uma explicação. Há anos dizia que estaríamos perto de epidemias e guerras que reduzissem a população mundial a níveis aceitáveis para a sobrevivência do planeta. Pensava eu e muitos mais. Tal como também há muitos anos imagino este cenário: um dia acordo e ao ligar o telemóvel e o computador percebo que estou sem ligação à internet, minutos depois vejo que a coisa não se revolve com o desligar e voltar ligar o router ou contactar a operadora, vou trabalhar e percebo o alvoroço, volto para casa e tento ligar a televisão em vão, e finalmente confirmo na rádio um 11 de Setembro em grande escala, sem violência material nem mortos directos. Ou seja, o mundo Ocidental - na minha imaginação ainda herdeira dos Aliados -, fica sem comunicações.

Ponto assente que a guerra moderna passa pelas comunicações, explica-me como é que um poderio económico como a China, ou um Estado sem essa capacidade económica, mas bem preparado tecnologicamente como a Rússia, ou um outro como a Coreia do Norte – ou uma entidade com grandes interesses económicos extra estaduais – poderia cortar as comunicações de um país ou grupo de países.

A pergunta não é como, mas sim se. A resposta é não. Não é possível. É possível incomodar ou atrapalhar as comunicações. A comunicação processa-se de várias formas e a internet é apenas uma forma de encriptação e de organização da informação. A internet faz-se através de um conjunto de computadores espalhados pelo mundo - interligados por comunicações tipo telefone, mais avançadas -, cuja localização é desconhecida, incluindo dos proprietários ou utilizadores. A ligação faz-se por satélite, rádio ou cabo (de cobre ou fibra óptica). Muita dessa comunicação é feita por cabos submarinos que ninguém sabe a verdadeira localização, são segredos de Estado.

O meio físico que sustenta a comunicação está tão diversificado que é difícil atacar. As formas de atacar são temporárias, através de vírus ou de software que atrapalhe a comunicação. Toda a comunicação digital é codificada e descodificada, o software vai atrapalhar no momento da descodificação. Nesse momento pode-se fazer espionagem ou roubo de informação, difundir a mensagem, estragá-la ou inibi-la mas isto é impossível a 100%. É um corte temporário e nunca total. Vês isso nos ataques às bolsas ou instituições financeiras.

Podes inibir parcialmente a informação. Podes reduzi-la, estragá-la, mas não eliminá-la. Respondido?

Voltando aos vários suportes das comunicações. Explica-me quais são e como se processa cada um dos suportes. Como funcionam. E como podes eliminar, atrapalhar ou deturpar as comunicações.

Tens a comunicação via satélite. É difícil atacar. Nesse caso terias que estragar o satélite do outro. Não é fácil. São milhares de satélites a circular à volta da terra com frequências diferentes ou específicas. Além do que a informação vai em pacote. A comunicação digital - a conversa de mil pessoas vai em pacote ‘zipado’ em microssegundos para ser enviado e ser descodificado no outro ponto. Imagina que ‘zipas’ mil ficheiros word. Essa compressão é feita com um código atribuído pelo computador no momento da codificação. A compressão é feita rapidamente e ninguém conhece o código – faz-se através de protocolos estabelecidos automaticamente pelo próprio sistema. É difícil fazer espionagem para ver quem fala com quem e diz o quê, porque a mensagem está codificada – ou seja, fragmentada em pacotinhos de comunicação que só na posse do código certo se podem unir em coerência. Funciona um pouco como os cartões visa, mesmo que roubes o cartão, tens que ter o código. Mesmo que tenhas acesso à comunicação, por exemplo, nós estamos aqui no quarto a receber as ondas electromagnéticas, mas não temos processo de as descodificar. Não temos a 'inteligência' e os meios.

A comunicação pode ser atacada, mas no momento em que já foi descodificada ou desencriptada. Salvo se entrar a inteligência de Estado. Grandes e médias potencias fazem espionagem, através das centrais, fazendo com que a informação que venha daquele telefone ou computador seja desviada para determinado local a fim de ser descodificada.

(A questão dos hackers fica para outro dia.)

Podes é enviar software espião para o computador alvo. Não se ataca no processo de ir de A para B, mas no momento da captação ou da descodificação. O software capta a informação por encriptar ou já desencriptada e reenvia-a para outro ponto.

Fala-me dos outros suportes físicos de comunicação.

Os outros suportes físicos de telecomunicação existem, são seguros, mas são caros. Apesar de ser caro, o satélite é uma forma barata de comunicação, apesar da manutenção que é preciso fazer. É seguro porque é redundante. As outras formas são: as ligações por cabo de cobre (antes) ou de fibra óptica (agora) e o rádio.

Num cabo de cobre multiplexado já era possível a conversação simultânea de cem canais de comunicação na mesma linha. Funciona como na rádio, cada pessoa fala em frequências diferentes no mesmo cabo, e depois cada uma das frequências é sintonizada. Isso já era possível na altura do telefone analógico.  

Agora na comunicação digital, à semelhança do que fazemos em casa com o programa winzip, falámos e imediatamente a conversa é ‘zipada’ pela central (a nossa e de mais 200 pessoas que falam em simultâneo), depois são reenviadas para outro ponto onde são ‘unzipadas’. A diferença de um ou dois segundos que sentimos nas conversas de telefones, é o tempo de comprimir e descomprimir a informação. E só aquele telefone, aquela pessoa ou entidade tem acesso à informação. A forma de espiar isso é ter acesso ao telefone, ter contacto físico com o telefone.

Interrompo. Não me parece.

Sim, é possível extraordinariamente. Acontece a nível de Estado com o acesso ao número de telefone ou número de IP. O Estado consegue espiar conversas via central. Nem as polícias conseguem. Só com autorizações especiais - e falo em termos técnicos e não legais. Se autorizada, a conversa é gravada pelas centrais. Nas operadoras.

Claro que é.

Mas estava a dar exemplos de espião particular e não de Estado. Tipo detective particular.

Falta um suporte físico. A rádio. Como se processa e como pode ser afectado.

Faz-se através de ondas electromagnéticas. Pode ser afectado misturando sinais de rádio mais potentes. Como uma terceira pessoa que fala mais alto e não deixa ouvir.

Recapitulando. Muito sucintamente, diz-me como é que em satélite posso destruir a comunicação, pôr ruídos ou deturpá-la.

Na altura da Guerra Fria quer a Rússia quer os Estado Unidos enviavam satélites lá para cima com armas para tentar destruir outros satélites, e nenhuma dessas armas se revelou eficaz.

Tens a certeza do que estás a dizer?

Sim. E podes confirmar.

Podes é empastelar. Pôr ruídos na frequência. Empastelar é pôr sinal por cima.

E em termos de fibra, já que agora se usa pouco cabo de cobre. Bem, estou a dizer isso mas fora da Europa possivelmente ainda existe muito.

Sim, claro.

A fibra tem a vantagem de não enferrujar. Além do que numa linha de cobre – que é grossa e pesada -, por cada linha de comunicação vai um cabo eléctrico, onde se conseguem poucos canais de comunicação, enquanto no cabo de fibra óptica como é muito mais estreito e leve pode ter mil filamentos, com vários canais de comunicação por cada filamento. Estás a ver a quantidade de comunicação que ali vai.

E, neste caso, como podia cortar a comunicação cabo. Imagina: temos a cidade do Porto. Imagina que queremos um apagão na cidade. Podíamos cortar um ponto mãe ou origem de toda a cidade? Era possível? Existe apenas um ponto?

Não. Existem vários. Era praticamente impossível.

Estar a cortar milhentos cabos.

Tal como a ligação entre Porto e Lisboa. Também seria difícil. Mas agora imagina a ligação entre a Europa e os Estados Unidos. Aí são menos e a localização dos cabos marítimos é, obviamente, secreta.  

A dispersão física torna difícil. E na comunicação rádio?

As nossas emissões rádio da manhã podem ser ouvidas em Plutão algumas horas depois, desde que tenhas como descodificá-las. Toda a rádio que foi emitida aqui chega a Plutão. É difundida ad aeternum. Para todo o sempre e mais além. Mas imagina, chega a Plutão e é como ter uma biblioteca inteira separada letra a letra de todos os volumes misturados. Ou como chegar a uma biblioteca com todas as letras desordenadas num único volume.

Isso já parece Borges. Gosto da ideia.

Tens lá a informação mas não a consegues perceber.

Tudo muito bem. Tudo quanto me explicaste parece fazer sentido, mas intuitivamente sei que um dia vou ligar o telemóvel e o computador e chegar à conclusão que meio mundo está sem comunicações.

A eliminação física não é possível mas a eliminação lógica é possível, através de vírus controlados à distância. A comunicação existe mas teríamos a válvula - o vírus -, a inibir a comunicação e a criar problemas num ou vários pontos. Até hoje nunca foi possível um corte total. Apenas parcial e temporário. Através de grupos de hackers com ataques sincronizados, que conseguem cortar a informação por algumas horas.

No início falei em mundo Ocidental. Um ataque provável é um ataque dirigido a algum Estado ou grupo de Estados, ou então, a determinadas empresas ou entidades.

É possível atacar a Google e deixar grande parte do mundo no escuro.

Então, às tantas, aquele pormenor antigo de atrasar os relógios dos computadores – no servidor –, para dar tempo de reacção, faz sentido?

Faria sentido se o computador estivesse sincronizado no relógio interno e não na hora oficial da internet. Depende de programa para programa e de como estão sincronizados.






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