Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Com um pouco de atenção e distanciamento bastante dos sujeitos e objectos de análise de muito do que se diz e escreve em português de Portugal é impossível para quem for isento não entender que não só não há o hábito entre nós de ter opinião independente como ela é malquista. Os exemplos de personalidades independentes dados pontualmente por quem tem voz na nossa praça são de um ridículo só. No passado como no presente os ditos grandes pensadores independentes estiveram sempre encostados ou eram devotos do clã preponderante na sociedade portuguesa. O facto de serem estudiosos, intelectualmente preparados e usarem um estilo belicoso de escrita ou oralidade não faz deles gente independente. Não só estavam e estão bem calçados como têm rol de discípulos prontos não a beber dos seus ensinamentos, mas a bajulá-los sem sentido crítico de espécie alguma, por pura necessidade de criar frisson.
Com objectividade, e não pessimismo, afasto qualquer possibilidade de fazer ver a mais singela realidade. Apesar disso expresso a ideia uma vez mais para registo futuro. Neste mundinho pequeno em que melhor ou pior todos se conhecem não só de maus-caracteres é feita a corrente dominante e a prepotência dos interesses. Gente bem intencionada não resiste ao encosto e ao conforto se de dar bem com todos. Uma forma muito nossa de brandos costumes e, no fundo, de desonestidade – aos portugueses falta o "danoninho" para serem decentes apesar de usarem a palavra "decente" ou sinónimos amiúde como se soubessem o que é. Todos admiram muito todos na exacta medida em que isso beneficia as suas pequenas ambições. Todos, numa massa mole de cobardia, calam as sujeiras que conhecem para não prejudicar aspirações próprias. Quando muito soltam uma verdadezita aqui outra acolá em conluio com a sua tribo, de costas bem quentes, e sempre para queimar algum sujeito que passe a malquisto por razões de conveniência e de sobrevivência das matilhas preponderantes.
E elogiam-se os "corajosos" que de modo desabrido ajudam a enaltecer a corrente dominante de pensamento, simulada num ou noutro toque alternativo ou de vislumbre genial forjados no momento para dar o ar de desalinho. Vale a aparência de independência e nunca a propriamente dita. Essa será irremediavelmente mantida a distancia prudente como se fosse lepra, por medo de contágio. A independência verdadeira será sempre convenientemente etiquetada de lunática e infundada, uma fraqueza de gente inadaptada do mundo normal.
Basta a morte de uma personalidade ou uma qualquer efeméride para darmos de caras com enquadramentos assustadores. Os mortos e homenageados nas efemérides dariam voltas de cobra no caixão se ouvissem as palavras a si dirigidas. Um acumulado de lugares-comuns que dizem muito mais da educação ou falta dela, da experiência de vida e das aspirações dos obituaristas e lisonjeadores da praça do que das individualidades sobre as quais se debruçam. É um deserto árido, sempre mais do mesmo, a diferença que decorre entre a vida e o carácter dos homenageados e aquilo que sobre si é dito seja por total incompreensão do mundo dos primeiros seja pela aspiração dos lisonjeadores - ou dos detractores, também existem -, a dissertar sobre aquilo que desconhecem.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.