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Admito defeito grave: não sei ler ou ouvir traçar perfis de carácter ou psicológicos e em muitos casos ler ou ouvir narrar histórias alheias. Daí me cansarem os enredos e as intrigas. Cada um vê os outros e as suas vidas como vê. Ainda que em silêncio, tendo a irritar-me com exposições de traços de personalidade e percursos de vida. Vejo essas análises quase sempre muito ao lado do que o outro é de facto. Quase sempre estereotipadas ou decorrentes de preconceito ou ressentimento. Parece-me ultrajante o despudor ou a pretensão com que se julga conhecer o outro e como se cataloga, fazendo-o parecer uma qualquer espécie de insecto. Soa-me à vingança do ‘optera’ onde não encontro nem vida nem alma do bicho.
A contradição: como todos também rotulo, considerando correctas as minhas etiquetas. Com toda a certeza decorrem de preconceitos e ressentimentos ou são estereotipadas. Sucede que me convenci que ao sentir o que escrevo, e ao estar de modo militante do lado de fora das tribos e das correntes opinativas dominantes, vejo com mais realismo. Mais verdade. É sem sombra de dúvida uma pretensão.
Também me irrita a onda de relativização de defeitos humanos graves, empacotando-os no lote de contradições da vida. A visão do ser humano como um somatório de qualidades de defeitos numa vida de contradições pode ser muito fiel à realidade (dos factos), mas é em muitos casos auto-justificativa. A onda de relativização traduz-se em mera absolvição psicológica, num tempo em que já não se usa absolver moralmente. Estaria tudo muito bem, se ao menos houvesse consciência deste expediente.
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