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Ando com vontade de escrever sobre o politicamente correcto há dois ou três dias. Sobre dissimulações, ismos de natureza vária e outras chocadeiras de fanáticos. Mas a empreitada pressupõe juízo e bom senso nos píncaros, coisa com que não acordo todos os dias, a menos que tenha nascido ensinada e não tenha dado por isso, o que é pouco provável.
Em vez do longo articulado sobre tonterias - adiado para dia mais inspirado -, dou-me ao luxo de desabar um desgosto. Trago a pena de não ter vivido fora de Portugal por minha conta e risco e por tempo suficiente para me pôr à prova. Sempre achei que estar fora nos enrijecia como gente, além de nos fazer bem às ideias. É certo que nasci em Angola, mas vim para cá com pouco mais do que um ano. É certo que lá voltei há quinze anos com ideia de ficar a trabalhar, mas decidi regressar em semanas. E que estive um mês e picos nos Estados Unidos, mas em férias, tal como os dois meses na Austrália. Porém, estes e outros arejos, pouco mais do que turísticos, por simpáticos que tenham sido não permitiram fazer aquilo que acho ser obrigação de um bom português: desenrascar-se (o texto inicial tinha um verbo mais incisivo) em terra estranha.
É possível que se tivesse vivido por minha conta e risco a lavar janelas em Nova Iorque, a limpar rabos num lar de idosos algures na Cornualha ou na construção civil em Berlim, gozasse de opinião mais bem formada, por exemplo, sobre racismo e xenofobia.
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