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RAP

por Isabel Paulos, em 27.02.23

Há muito não via um Alta Definição. Acabo de assistir na box à entrevista transmitida ontem a Ricardo Araújo Pereira. Um homem indubitavelmente inteligente e reflectido. Nem vale a pena referir a graça, é desnecessário por ser de tal forma evidente. Deixo, não obstante, duas notas até para confirmar aquilo já aqui foi dito várias vezes quando me referi directa ou indirectamente a RAP. Por mais que invoque estudos para provar que não tem peso como orientador de opinião, e enaltecer um humor supostamente inócuo sob o ponto de vista moral e político, reduzindo-se apenas ao regozijo da liberdade de em democracia fazer piadas parvas e não sensatas, a verdade é que muito poucas figuras em Portugal têm o mesmo peso e influência na opinião pública nacional.

E a questão da demarcação do moralismo é no mínimo divertida. Parece um paradoxo, mas não é: os denunciadores dos moralistas e do moralismo são sempre os que mais valores morais propagam. No caso de RAP, posso até estar próxima da evangelização através da ironia que vai fazendo ao longo dos anos, mas não deixo de anotar o quão moralista é.

Por fim, fico sempre com pena que gente bem-sucedida evoque tanto o trabalho – chave indispensável do sucesso, não haja dúvida -, mas não sublinhe a felicidade de ser fadada por natureza com facilidades e talentos que tocam a poucos.


16 comentários

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De /i. a 27.02.2023 às 14:25

Não vi a entrevista. Leio as crónicas dele. Gosto de o ler, mais do que o ouvir falar. O programa de tv, não tem a qualidade de um gato fedorento, infelizmente.  Nem sempre se pode fazer e consegue o excelente.  No governo sombra, agora com outro nome, é sempre aquele que não esquece o seu lado comunista, tenta disfarçar até porque com um salário milionário teria de no mínimo dar o dízimo se se mantivesse lá no partido da foice e martelo. Tem uma coisa boa, para além de escrever com muita ironia sem ofender grosseiramente, antes ofender com classe, mas como não percebem quem se ofende não era o alvo da ofensa (interpretação de texto é o calcanhar de aquiles do português), é um enorme Benfiquista.  E não se tem corrompido com as constantes investidas dos dirigentes do Benfica. 
Acho um exagero o pedestal  onde o colocam, o talento também se trabalha, claro que quem é criativo por natureza tem menos esforço na criação de textos. Percebo o lado dele quando diz que não é talento por si só, é trabalho. O talento é preciso de ser trabalhado para atingir a excelência e distinguir-se dos outros colegas de profissão.  O humor não é contar anedotas... o humor é abordar a celeuma do momento com pinças para criar riso sem seguir a ideia de gargalhada  fácil, mas transportando para o nosso dia a dia a situação e ver quão ridículo é que dá  vontade de rir.  E isso não é fácil sem se cair na banalidade. Ele nisso é mesmo bom. Por isso, percebo o que diz, é muito trabalho de reflexão para fazer o seu humor. 
Beijinhos. 


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De Isabel Paulos a 27.02.2023 às 15:31

Não acho que seja melhor escrito do que falado. É observador, lido e reflectido e com o talento inato para o humor, sabe buscar os pontos sensíveis, os fracos, as curiosidades de os paradoxos para fazer humor. As crónicas são indubitavelmente divertidas, nas do ponto de vista da escrita RAP é apenas um bom aluno de português, um menino bem comportado da gramática e dos prontuários. Arte na escrita não vislumbro. Salvo a arte de fazer rir, onde é imbatível entre nós. 
Óptimo para ler e esquecer a seguir, o que não acontece na escrita que perdura. Vendo bem, nesta perspectiva parece-me que os sketches dos Gato Fedorento terão mais valor. Dito de outra maneira, prefiro falado a escrito.
Agora por brincadeira, por causa do benfiquismo, lembrei-me de Fernando Rocha. Não sei se é portista, mas sob o ponto de vista da educação, e apesar de não perder a oportunidade de um bom palavrão, também aprecio mais a educação do RAP. Se bem que, como é sabido, as maiores sacanices fazem-se sempre sob a capa da polidez.
Gosto sempre de conversar consigo, Isabel.
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De /i. a 27.02.2023 às 16:35

Eu como sou tímida... aprecio mais quem escreve. O dom na oratória não me diz nada... pois por vezes dizemos muita coisa da boca para fora só para cativar e manter a atenção de quem nos ouve. Há pessoas que sem dizer nada já cativam pois são sedutoras só pela sua postura. Quando utilizamos a escrita, por vezes somos mais verdadeiros. Escrevemos com que realmente queremos dizer: pode ser de forma directa ou com longos textos. E aí não temos interlocutor... perdemos a timidez e somos mais sagazes. Não temos aquela preocupação de será que estou a ser aborrecida e mordaz no que digo? Apesar de
eu  cara a cara dizer o que penso, porém nem sempre estou na disposição de ouvir as desculpas do outro lado... ou mais grave, perder tempo a criar aquela imagem para que seja cativante  a minha mensagem. Quando tento esse esforço: lembro-me de Mussolini, Hitler, Putin... uns venderes de ódios para alimentar o ego. Por isso, nunca serei uma boa palestrante... tento ser melhor escrevinhadora.
Gosto de oradores a dizer a verdade nua e crua... isso há poucos. 
O RAP criou um boneco para falar quando não está  na sua performance de humorista. É tudo muito bem medido, não quer que a sua vida privada tenha maior destaque do que o seu trabalho por isso... as entrevistas deles terem a mesma abordagem... ele não diz nada de novo há anos.
O Fernando Rocha é portista. Pois eu não gosto da brejeirice.  Atenção não condeno, é o meu gosto. 
Muitas vezes, brinco que é preferível ter humor negro ou irónico, que é mais directo e por vezes ofensivo, do que um humor à Fernando rocha de mau gosto carregado  de palavrões gratuitos que denota a nenhuma polidez.  
Já escrevi em demasia, outra vez.
Beijinhos. 
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De Isabel Paulos a 27.02.2023 às 17:12

Concordo no essencial consigo. Também sou tímida. Tenho dias, há alturas em que disfarço melhor. Julgo que tem a ver com reserva e o medo de ser mal interpretada: não gostar de ofender gratuitamente nem de ser ofendida. Oralmente isto levanta dificuldades, por não ser rápida no gatilho e trocar as palavras por dislexia (trago um Jorge Jesus dentro de mim eheheh). Não fosse a boa-disposição e estava tramada. Na escrita o factor tempo está do nosso lado, podemos defender-nos melhor.

Pela oratória e quanto a fundamentalismos ou radicalizações ideológicas não corro riscos. Se me habilitasse a fazer gracinhas seria trucidada e bem num ápice pela total falta de jeito. Seria facílimo alvo de chacota por ter muito ridículo por onde pegar. Na escrita tento vigiar-me para não cair em fundamentalismos. É sempre fácil embalar nos próprios argumentos e teorias da treta.

Quanto ao palavrões, fazem parte do nosso léxico e são muito libertadores. Mas há que saber dosear.

Beijinho. 

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De /i. a 27.02.2023 às 19:13

Tem de se ser genuíno a dizer os palavrões.  E o Rocha na maior parte das vezes  não é genuíno,  acha que quanto mais palavrões disser mais agarra a atenção do público... é o bordão dele que nem sempre é eficaz... quando está naqueles horários em que o palavrão não é aconselhável, a prestação é sofrível... 
Há pessoas que dizem o palavra e ve-se que é genuíno, por isso não se torna vulgar. 
Beijinhos 
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De Hélder Silva a 28.02.2023 às 11:29

Só não concordo com a parte do comunista, porque para o ser não é necessário ser cego partidário.
Posso dar o exemplo desse programa, ele abdicou de receber mais que os colegas quando passaram para a SIC, para darem um pouco mais a cada um dos outros, e, assim receberem todos o mesmo.
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De Anónimo a 27.02.2023 às 14:54

Desconfio que a autora destas linhas anda embeiçada pelo Presidente da Ucrânia. E, vai daí, até parece que o próximo texto já será a avançar com a ideia de que o humorista RAP pode vir a ser um excelente PR. Acho bem. Mas tenho de o dizer: foi pena o Marcelo ter sido um humorista foleiro, de meia tijela. Fosse ele um RAP e teríamos o Zelensky a condecorar  o Marcelo pelo importantíssimo contributo dado para ganhar aos russos. Tudo à revelia do Costa e do Santos Silva, obviamente.
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De Isabel Paulos a 27.02.2023 às 15:04

Não só não percebe o que lê, como é baralhado das ideias.
Tenha um dia bom, anónimo.
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De Rui a 27.02.2023 às 21:29

Ideologicamente, RAP, não respeita a democracia!Por isso, é inteligente. Haja paciência....
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De Isabel Paulos a 27.02.2023 às 21:50

Cada vez percebo menos.
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De s o s a 27.02.2023 às 20:30

para quem nao acompanha televisao, nao fica a saber o que é o moralismo referido, apesar de num momento do post aparecer o termo evangelizaçao. 
Acho que o ex-ministro bagao felix,  clarificou, recentemente, a diferença entre moral e moralismo.  
Direi, palavras minhas, e ao calhas, que o moralismo é o lado malefico da moral. 
(o post nao é fácil. E o ultimo paragrafo estava a parecer um achado de incompreensao, por parte do leitor)
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De Isabel Paulos a 27.02.2023 às 22:13

Estou admirada por estar cá hoje, sos. Não se enganou? Este post não foi destacado.
Não ouvi Bagão Félix, que tem um predicado: gostar de árvores.
De modo muito pragmático digo-lhe qual é a diferença hoje em dia entre moral e moralismo: moral são os princípios do próprio, moralismo são os valores do adversário. É nisto que estamos. No tempo em que povo é quem vota em mim e ralé quem vota no adversário. No tempo em que se evoca ilustres pensadores para chicana argumentativa. No tempo em que se dá relevo interesseiro (e sem verdadeira sensibilidade social, expressão que caiu em desuso) às notícias acerca da pobreza ilustrando-a com pratos pouco abonados das cantinas das escolas públicas no Governo de Passos Coelho ou nas refeições solidárias aos imigrante no Governo de Costa.
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De s o s a 27.02.2023 às 23:15

pois, eu sei, tambem já o ouvi, impressionado, falar sobre arvores. 
Sim é isso mesmo, como tambem ouvi ao Bagao : moral é do proprio, moralismo é o que é imposto ao outro. 
Depois, a Autora acelera,  e apesar da pobreza ser um tema "farto", nao consigo situar a medida (narrativa) , logo nao consigo ser mais papista que o papa, pegar no fio da meada, porque nao encontro a ponta. 
De toda a forma, imagino que já ouviu interessantissimas "definiçoes" da coisa ao RAP.
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De Isabel Paulos a 27.02.2023 às 23:38

Como sou boazinha vou traduzir: no tempo de Passos Coelho usou-se como arma política imagens do pratos pouco fartos nas cantinas das escolas públicas (ou as dificuldade dos mais idosos para comprar medicação nas farmácias), hoje com Costa usa-se a a fragilidade da condição de vida dos imigrantes. Em suma, tudo é usado, ainda que com algum fundo de verdade, sem genuína preocupação de justiça. Tudo é argumento de facção. Mais acima referi as evocações a pensadores ou escritores consagrados também para argumentar como se estivéssemos em trincheiras. E quem sai deste registo não agrada nem a gregos nem a troianos.
Era só isto, sos.


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De s o s a 28.02.2023 às 00:07

obrigado.
E belissimamente bem dito : sem genuina preocupaçao de justiça.
Mas o circo ( o mundo) é assim e nao de outra maneira. 


Entretanto vi em artist (conta do insta . conta que nao sigo, vi na folha geral ) : 
um homem vestido de rosa corre mas sem sair do sitio, pois esta acorrentado pelas costas, e ao que parece persegue um maço de notas   , suspensa a um passo dos seus olhos, desfaz-se, fica esqueleto e vai  na cova (sepultura) . RIP diz a lápide.


outra cena na mesma folha geral e  da mesma conta : bolos em forma de microondas (com o formato dimensao do real ), e  outros bolos espetaculares de outros objetos.  
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De s o s a 27.02.2023 às 23:17

ainda a tempo, e por falar de arvores, aqui sim falo com propriedade do que sei : só conheço as arvores quando dao o fruto. 

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