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Apesar de tudo ainda tenho o hábito de ver televisão. Mas pouca: dois jornais por dia, um qualquer programa informativo ou debate e não muito mais. Apesar de ter cento e muitos canais é raro deambular entre eles. Há anos perdi o hábito de ver séries e filmes regularmente. Os poucos filmes que vi nos últimos tempos foram exibidos no computador ou na televisão mas baixados numa pen. Não subscrevo HBO nem Netflix. Familiares, amigos e conhecidos vão-me relatando enredos que começam a ter anos, quando não uma ou duas décadas. Vivo numa realidade paralela. Quando muito e por temporadas dá-me para espreitar o Canal Q e sorrir, a TPA ou o Porto Canal por curiosidade. A BBC, a CNN ou qualquer outro canal deste género num dos momentos periclitantes para o mundo. Os canais de música como pano de fundo. Talvez pontualmente outras estações que agora não me esteja a recordar. Ou então oiço distraída noutros afazeres algum documentário ou debate que o Nuno esteja a ver. Muito raramente e, para perceber a oferta, percorro os canais da box. Já rádio escuto todos os dias. Desde que sempre e por longos períodos.
Vai longe ano de 1992 em que aderi como espectadora regular à SIC ou mesmo o de 2001, quando comecei a ver a SIC Notícias. E assim me mantive ao longo dos anos. A TVI, salvo uma novidade, um programa ou outro, estava fora de questão e os jornais da RTP com o seu ar sempre muito institucional repeliam-me. Uma vez por outra abria a RTP 2 ou 3.
Com a pandemia a SIC começou a tornar-se insuportável. Bem sei que é impossível fugir ao que está a acontecer e todos os canais se tornaram pelo menos tão repulsivos como a realidade. Mas convenhamos que a SIC com a descoberta da vocação evangelizadora e propagandística se tornou intragável. Quase 30 anos depois percebo que a estação de televisão privada que, contrastando com o funcionalismo público da RTP começou por um projecto novo, mais arejado e independente em que me viciei, foi compactuando ao longo dos anos pontualmente com personagens e circunstâncias que me enojam, até se transformar nos últimos tempos num espaço medíocre, rasca e altamente desaconselhável para quem queira perceber honestamente o que se passa no mundo. Estou consciente que comentários como este são injustos com algumas pessoas competentes que lá trabalham - obviamente, é uma crítica num milhão e é para o lado que dormem melhor.
Dei por mim nos últimos meses a voltar aos jornais, debates e documentários da RTP 1, 2 e 3. Admito que nesta casa o ar se tornou bastante mais respirável. Já nem reparo, como antes, nos separadores e grafismos a lembrar os anos 70 e 80. Não quero saber dos ódios de estimação ao jornalista ou comentador A ou B, nem pensar que pagamos todos para alimentar salários desnecessários e regalias injustificadas. Apesar de tudo na RTP ainda consigo descortinar alguma sobriedade, factos e notícias. Longe das guincharias. Uma paz.
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