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No átrio das traseiras o chaveiro feito de uma tábua de madeira escura e polida com talvez uma dúzia de cavilhas salientes estava fixado na parede ao lado do quadro eléctrico, no qual havia sempre pendurado um conjunto suplente de fusíveis. Os pregos carregados de chaves, das antigas tubulares de ferro maiores ou mais pequenas com castelo na ponta, dentes a fazer lembrar ameias de muralhas, às novas prateadas de liga mais leve e achatadas. Abriam para onde podia ser. Em princípio para a direita, às vezes para a esquerda. Uma volta à esquerda, duas à direita, a da garagem do avô, onde gostava de ir brincar com o torno. Os segredos mais não eram do que velhas manhas de chaves antigas. Quando cheguei a Christchurch aos 16 anos a Mrs. Phyllis e o irmão puseram-me à prova. Creio que o faziam com todos os estudantes que por lá passavam e tinham particular gosto em dizer que os jovens alemães hospedados eram inábeis - durante as semanas que lá estive o outro quarto encontrava-se ocupado por duas alemãs. No dia da chegada, deram-me a chave, deixaram-se estar junto ao portão e à sebe e disseram que fosse abrindo a porta de casa. Pasmaram com a rapidez e facilidade com que a rodei em sentido contrário ao habitual e destravei a lingueta, abrindo a porta à primeira. Pudera, não conhecia eu outra coisa senão portas manientas. Até que todas as fechaduras passaram a ter abertura para o mesmo lado e o mundo perdeu a graça.
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