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Regressou e nunca mais trabalhou por conta de outrem, desfiando-se um rol de pequenos negócios que foi engendrando. Começou com uma fábrica de alpercatas, mais tarde vendida ao P., que a transformou na fábrica de calçado [...] Mas o negócio mais espirituoso foi o do Jerusalém há 2000 anos. Tratava-se de arrancar de carro seguido de camião, com as peças de um cenário no qual era recriada de forma meticulosa a vida há 2000 anos, em Roma e em Jerusalém, antes, no momento e após o nascimento de Jesus Cristo, contando os episódios da sua vida através de um engenho electromecânico com figuras e cenários em movimento.
Nesta espécie de caravana do tempo deambulavam ele a tia T. e algumas vezes o teu bisavô J., através de Espanha, França e Itália, que em Portugal os ventos não estavam pelos ajustes com a religião. Não te esqueças que o anticlericalismo estava no auge por esses anos. E era assim que, por temporadas, desembestavam estrada fora, por várias aldeias, vilas e cidades mediterrâneas, para exibir o Jerusalém há 2000 anos, aproveitando para lucrar com o merchandising da época, a venda dos postais alusivos ao espectáculo.
Sucede que nos anos 30 a tia T. teve saudades da irmã R. e, então, resolveram vender a caravana do tempo, o Jerusalém há 2000 anos, ao que parece em mau negócio, e partir por uma temporada de um ano para o Brasil. Foi o regresso do tio A. T. P à América do Sul, desta feita não ao Equador, onde vivera anos antes, mas ao Brasil onde vivia a cunhada. Mataram saudades e regressaram aos empreendimentos em Gaia, à rua General Torres.
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Desta saga existem os seguintes postais:
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